Em todas as referências a Torquato Neto, em entrevistas, nas biografias, nos documentos, incluindo aqui o feito por Ivan Cardoso para a TV Manchete em 1994, sempre aparecem menções a uma coleção de literatura de cordel que Torquato Neto possuía e da qual todo mundo ignorava o paradeiro. Eu, por mim, a primeira vez que ouvi falar sobre o assunto foi da boca do próprio Torquato Neto. Numa conversa em sua casa, logo depois que eu havia chegado ao Rio de Janeiro, no meio de um assunto sobre José Carlos Capinam, Torquato falou que ele (Capinam) era superinteressado em sua coleção de cordéis e que vivia insistindo em comprá-la, tendo mesmo chegado a lhe oferecer R$ 500,00 pelo lote. Nesta época, Capinam trabalhava em uma agência de publicidade multinacional, a Standard, e isso parecia não agradar muito a Torquato que afirmou: – Para ele, eu não vendo por preço nenhum!

Suponho que esses cordéis tenham sido comprados e juntados no período de tempo em que Torquato neto viveu em Teresina e Salvador. Na biografia de Torquato Neto, escrita pelo jornalista Toninho Vaz, cuja segunda edição acaba de ser publicada, está registrado que o então jovem compositor baiano Gutemberg Guarabyra passou a frequentar a casa de Ana e Torquato Neto, na Ladeira dos Tabajaras, n. 52, e que, entre outras coisas, “aparecia para consultar a grande coleção de literatura de cordel”. Em novembro de 1992, em entrevista ao crítico musical Tárik de Souza, para o Jornal do Brasil, Ana Duarte depõe: “Ele (TN) tinha, por exemplo, uma enorme coleção de literatura de cordel. Devagarinho ele passou adiante, um por um. Começou a queimar os textos, alguma coisa eu ainda consegui salvar, mas um dia ele quebrou a máquina de escrever e disse que nunca mais escreveria”. Anos mais tarde, Toninho Vaz, na biografia já citada aqui, escreve: “Talvez como um sintoma de suas intenções, ele (TN) queimaria papeis com anotações, poemas e textos desconhecidos. Também se desfazia da coleção de literatura de cordel e de alguns livros. Ana ainda conseguiu salvar  algumas coisas, mas muito desse material seria destruído nesses dias”. Como se vê a coleção de literatura de cordel que começou grande, se tornou enorme, mas, finalmente, aparece como o que realmente era: apenas uma coleção de literatura de cordel.

(Texto completo na Revestrés#33 – outubro – novembro de 2017 – Edição Especial Torquato Neto).