Armandinho é um menino de cabelos azuis e de frases cortantes, simples e contestadoras. De seus pais, não conhecemos mais que uns pares de pernas e que são frequentemente desafiados pela imensa capacidade do garoto de ler o mundo. Armandinho, nascido em 2009 pelas mãos de Alexandre Beck, catarinense que trabalha como ilustrador e cartunista há mais de 15 anos, atrai seguidores de todo o Brasil. Os temas das tirinhas e das falas de Armandinho estão sempre ligados a questões como direitos humanos, meio ambiente, participação política e outros temas “pululantes”.  

O menino de cabelos azuis apareceu, pela primeira vez, nas páginas dos jornais de Santa Catarina em 2009, e de lá se tornou quase um popstar do Brasil pelas redes sociais, tem sua imagem em livros didáticos e é estrela de 11 livros, com previsão de saírem mais dois em breve. E, desde nossa edição 39, Alexandre Beck permite a Revestrés a publicação das histórias de Armandinho.  

Aqui, Alexandre bate um papo conosco. A conversa é rápida porque, como não podia deixar de ser, Armandinho não para um segundo: o tempo todo está questionando tudo e armando alguma coisa.   

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De onde surgiu a ideia de fazer o Armandinho? Como ele nasceu? 

Um dia um repórter me pediu três tiras pra ilustrar uma matéria de jornal, sobre economia doméstica, em uma relação entre pais e filhos. O prazo de entrega era de poucas horas, e a solução que encontrei foi usar um desenho de criança que estava pronto e representar os pais por pernas. O material impresso foi bem recebido na redação e pelos leitores, e fui amadurecendo uma ideia. Era 2009. Cerca de seis meses depois, já em 2010, a tirinha do Armandinho começou a ser publicada nas páginas do jornal. 

Por que você acha que o Armandinho se tornou um fenômeno de popularidade? 

Creio que ocorre algum tipo de identificação. Com as situações retratadas, com as mensagens, com os assuntos levantados nas tiras. Pelo fato do personagem ser uma criança talvez facilite uma identificação mais pessoal: seja por parte de crianças, que se veem representadas; seja por parte dos adultos, que podem ali perceber seus filhos e netos. Ou até mesmo eles mesmos quando crianças. Às vezes, é difícil acreditar, mas todo adulto já foi criança. 

A tirinha é um formato “criado” para o jornal impresso; como você vê este formato distribuído pelas redes sociais? Há alguma diferença relevante? 

Até hoje faço as tiras pensando no formato de jornal impresso, até porque continuo publicando nesses veículos. Há enormes diferenças entre os meios. No jornal impresso há um público relativamente fixo, restrito,  habitual e homogêneo em termos sociais e econômicos. O leitor pode acompanhar a publicação diariamente, por anos. É possível que uma tira acabe se adaptando a esse público. Isso pode ser cômodo, mas é um problema. Nas redes sociais é muito diferente. Fala-se para o mundo; e tem-se o retorno do mundo. Os confrontos de diferentes pontos de vista são inevitáveis e constantes. Às vezes, isso chega a ser assustador, pela quantidade de informações novas. Mas quem se dispõe a ouvir e aprender, e tem a humildade de rever conceitos, tem ali uma fonte riquíssima de conhecimento, e pode crescer muito como ser humano. 

O Armandinho é o Alexandre Beck criança? 

De certa forma, sim. Estamos descobrindo e aprendendo muita coisa juntos. 

O que o Armandinho quer ser quando crescer? 

Uma árvore. 

 

Publicado na Revestrés#40 – março-abril de 2019.