Quando Francisco Reginaldo de Sá Menezes esteve em Teresina para dar palestra no Salipi – Salão do Livro do Piauí, recebeu tratamento de um quase popstar. Auditório lotado de jovens, velhos e nem tão velhos, muitos aplausos, assovios, fotos e fila para autógrafos. No palco, histórias de sua carreira como jornalista, críticas e comentários ao mesmo tempo ácidos e divertidos sobre política, um pouco de futebol – claro, sobre seu Santos, time do coração –, um pouco de Nordeste e a presença graciosa e sorridente de Irene, pouco mais de 3 anos, filha de Francisco Reginaldo e Larissa Zylbersztajn. 

Francisco Reginaldo é Xico, o Xico Sá. Jornalista, escritor e tuiteiro com mais de um milhão e meio de seguidores, é Francisco por conta do santo e Reginaldo porque sua mãe é fã de Reginaldo Rossi. Depois do momento público, Xico Sá, Larissa e Irene foram jantar. Mão de vaca para o cearense do Crato criado no Cariri e mudado para Recife aos 16, batatas fritas para Irene, que ainda dá os primeiros passos no desbravar do mundo. O combativo e crítico jornalista e tuiteiro dá vez ao pai amoroso, correndo atrás de Irene no parquinho do restaurante e abraçando e beijando a pequena para reduzir a dor de uma cabeçada na quina da mesa. O avohai – como Xico se chama ao dizer que é avô e pai de Irene – já confessou não ter habilidade para arrumar um lacinho de fita, mas mostrou que é craque em aliviar as dores da filhota.  

O Xico Sá devoto de padre Cícero, cronista, comunista, existencialista, celebridade da TV e das redes sociais encontrou um tempinho entre as tuitadas, os textos e o chamego em Irene para responder algumas perguntas para Revestrés. 

Foto | Larissa Zylbersztajn

No Brasil de 2019 ainda existe o macho-jurubeba? E quem é ele? 

Talvez exista um exemplar na chapada do Araripe, lá no Cariri, terra dos pteroussauros gigantes, e outro na serra da Capivara, em terras piauienses de São Raimundo Nonato. O macho-jurubeba é o bicho encruado das antigas, um personagem que uso nos meus livros de crônicas como contraponto a todo tipo de modernidade e modernagem. Tudo na vida dele é raiz, nada é gourmet ou modinha. 

O que tornará Neymar inesquecível como personagem do futebol brasileiro e mundial? 

Ele precisa ser mais jogador de futebol do que personagem de “memes”. Concentrar mais na bola do que na cultura de celebridades, além de deixar de ser um bolsominion que vai pedir facilidades fiscais – para se livrar de multas – ao presidente e ao ministro Guedes, como vimos recentemente. Noves fora essas pisadas na bola, joga muito, se focar no gol, um dia será inesquecível como um Zico, mas ainda falta muito. 

Se hoje ainda há um grande preconceito e temos um presidente declaradamente homofóbico, imaginem o que é eleger a primeira política trans do país, em Colônia do Piauí, há quase 30 anos!

De que tamanho é o Cariri? 

O Cariri é maior que o universo, naquela concepção de Fernando Pessoa: o rio da nossa aldeia é o rio mais bonito e necessário. O Cariri é infância e o começo da formação deste cronista desmantelado. Quanto mais ganho mundo, mais sou de lá de novo.

O que existe de mais bonito que a chuva no sertão? 

Nunca achei coisa mais bonita do que essa paisagem. Pra completar, com um açude sangrando e o canto de um galo de campina ao fundo. 

Você fez reportagem sobre Kátia Tapety, primeira transexual eleita a um cargo eletivo no sertão do Piauí. O que significa para o Piauí e o Brasil eleger Kátia? 

Foi uma das minhas reportagens, na Folha de S. Paulo, nos anos 1990, que mais repercutiram, inclusive fora do Brasil. Se hoje ainda há um grande preconceito e temos um presidente declaradamente homofóbico, imaginem o que é eleger a primeira política trans do país, em Colônia do Piauí, há quase 30 anos! Isso é que é vanguarda piauiense. Entrou para a história. 

“Todo homem morre com doze ou treze anos”. O que vem depois desse homem que morre? 

Aí é total inspiração de Nelson Rodrigues, cronista que me influencia diariamente. Hiperbólico, ele achava que o homem era a sua infância, a sua inocência, quando ultrapassava essa fronteira, já era, tudo estava perdido. Belo exagero à parte, quando nos defrontamos com a vida adulta, chata e sem fantasia, bate uma desilusão danada e só nos resta pagar contas e cumprir horários. Mas somos teimosos e resistentes, o humor, a fuleiragem nos mantém vivos e com alguma cota de esperança.   

Publicado em Revestrés#42 -julho-agosto de 2019.

 Assine e receba em qualquer lugar do Brasil:
www.revistarevestres.com.br ou (86) 3011-2420
💰 Ajude Revestrés a continuar produzindo jornalismo independente: catarse.me/apoierevestres