No apagar das luzes de 2022, os poetas Alberto Pucheu e Tarso de Melo se juntaram no livro “Um mergulho e seu avesso”, produzido a partir de dois dos mais consagrados poemas de Alberto Pucheu: “É preciso aprender a ficar submerso” e “É chegado o tempo de voltar à superfície”. Nada mais apropriado para um ano que terminava incerto, mas com desejo de esperança.

“É preciso aprender a ficar submerso” foi escrito em 2009 e se transformou, ao longo dos anos, em um poema que rendeu centenas de publicações e interpretações em áudio e vídeo. Na época de sua primeira escrita, o poema tinha o título “O dia em que Gottfried Benn pegou onda”, e trazia referências do surf, o que rendeu a Pucheu a participação no filme “A vaga”, de Daniella Fonseca.

Embora o poema tenha recebido em 2013 o título de seu primeiro verso – tal qual conhecemos hoje – foi em 2020, onze anos depois, que o poeta e ensaísta Alberto Pucheu viu a repercussão de seu poema tomar proporções até então inesperadas. Diversos artistas, cantoras, atrizes e escritores, ao se depararem com o poema nas redes sociais, o  incorporaram em apresentações, shows e leituras. Nomes como Letrux, Cida Moreira e Diane Junks, por exemplo, tomaram para si as palavras de Pucheu.

Naquele período, em meio à pandemia de um vírus que ataca a capacidade de respiração, “É preciso aprender a ficar submerso” assumiu seu lugar de mantra, cujos versos se tornaram aquilo que as pessoas desejavam ouvir e dizer. “A
potência desses versos de Pucheu explodiu na minha memória, nos meus ouvidos e também da minha boca, para os ouvidos dos amigos, até essa grande explosão de seus significados que se deu quando, em março de 2020, submergimos todos na pandemia e não parecia restar nada mais que ‘aprender a ficar lá embaixo’, persistindo, resistindo, aguentando, aguardando”, explica o poeta Tarso de Melo, que assina o ensaio do livro.

Apesar do pulmão estourado/ do estômago explodido/ dos olhos esbugalhados/ das veias estufadas/ dos miolos espatifados/ do corpo maltratado/algo faz saber/ que resta um fôlego qualquer” – Alberto Pucheu

Em outubro de 2021, Alberto Pucheu publicou em suas redes sociais o segundo poema: “É chegado o tempo de voltar à superfície”. Como uma espécie de resposta e continuidade ao primeiro, o poema logo recebeu diversas republicações e interpretações. “É um poema de urgência, um poema de insurgência, que em certo sentido, formula a convocação poética, política e ética, pela qual aguardávamos enfim, após tanto tempo de isolamento social,
voltar à superfície apesar de tudo, voltar porque não há mais nada a perder, a não ser o medo”, explica Tarso de Melo.

Voltar à superfície apesar de tudo, voltar porque não há mais nada a perder, a não ser o medo” – Tarso de Melo.

Depois de tantas reverberações nas redes sociais, os “poemas-mantras” – como define Diane Junks, que assina a orelha do livro – foram publicados no “Um mergulho e seu avesso”, acompanhados de um ensaio de título homônimo assinado por Tarso de Melo. Segundo Tarso, a proposta do livro surgiu após conversa com Pucheu. “Lancei ao ar essa ideia: quero escrever sobre o que senti enquanto li esses poemas e montar um pequeno livro com eles, em torno deles. Em seguida, trouxe a ideia para a Impressões de Minas, que logo abraçou a proposta de reunir os dois poemas de Pucheu e meu ensaio num bonito volume”, explica.

Agora, quando ainda se misturam sentimentos do tempo em que ficamos submersos (um mergulho), persiste a vontade de voltar à superfície (seu avesso). Esse será um bom tempo para ler “Um mergulho e seu avesso. “

Título: Um mergulho e seu avesso:
dois poemas de Alberto Pucheu e um ensaio de Tarso de Melo
Autores: Alberto Pucheu e Tarso de Melo
Projeto gráfico: Elza Silveira
Impressões de Minas Editora (1ª edição)
1×1 cor
Formato: 13x18cm
56 páginas
Capa em papel apergaminhado 240g,
miolo em papel Pólen Bold 90g. Sobrecapa em luva.