Filha de lavradores, nascida na roça e quebradeira de coco babaçu desde os sete anos para ajudar os pais no sustento da casa. Esse poderia ser o começo, meio e fim da história de qualquer menina do paupérrimo sertão de Barras, no Piauí, mas esse não era o enredo do roteiro da vida de Edite Maria Rosa (@editerosa_).   

O cenário é uma casa que ficava à beira de uma estrada que liga os municípios de Esperantina e Luzilândia. Caminhoneiros, viajantes e transeuntes paravam por ali para um banho ou uma dormida, todos recebidos por seu hospitaleiro pai. Entre idas e vindas, um simples e simpático casal para nas redondezas e monta o seu teatro de fantoches – mais conhecido como mamulengos-, e toda noite era um espetáculo que reunia os vizinhos e, pela primeira vez, o sentimento daquele universo inunda o coração de Edite. 

 

Mais tarde, também por ali, algumas  mulheres do interior que trabalhavam como domésticas na capital, Teresina, retornavam ao interior munidas de revistas antigas de celebridades. A menina se encanta pelo universo das divas da TV e do cinema. E o que mais chamava sua atenção era a diferente aparência dessas mulheres, em comparação às mulheres da roça. Suntuosas, belíssimas e glamourosas – isso era combustível para sonhar e querer um dia figurar naquelas páginas. 

Chegou a hora do casal dos mamulengos partir e ganhar estrada e, junto com isso, veio a ousada proposta de levar Edite para bem longe com a dupla. “Mesmo morando no interior, nunca fui tímida, sempre fui dada para as pessoas. Topei ir embora com eles e não existia um sentimento de medo ou tristeza”. Madrugada adentro, na hora da fuga, Edite dorme um pouco mais  e perde a carona. “Acordei atônita procurando por eles, mas já era tarde demais. Coisa de Deus, que não permitiu que isso acontecesse”, profetiza Edite.  

Desde então a vontade só aumentou.  Aos 12 anos, Edite começa a suplicar aos pais para ir à capital em busca de oportunidade para sua tão sonhada carreira. Pedia para falar com conhecidos fazendeiros e donos de terra. “Meu pai não admitia que eu fosse curica da casa de branco, mas consegui convencer e cheguei em Teresina”.

Sozinha, sem conhecer ninguém e sem saber por onde começar, Edite acabou conhecendo um rapaz e casa com ele antes de completar 15 anos. Nascem três filhos do romance. O sonho ficava cada vez mais distante. De repente, Edite descobre uma oficina de artes para a terceira idade ministrada pela atriz piauiense Cármen Carvalho, mas Edite tinha apenas 31 anos. Persistente, pediu, implorou, insistiu até que conseguiu entrar. E desde então, como o nome artístico Edite Rosa, nunca mais parou.

Com 59 anos e 28 anos de carreira, a menina sonhadora acumula 18 peças de teatro no currículo, mais de cinco filmes com exibição em circuito nacional e seis prêmios de melhor atriz, sendo três vezes consecutivas no Melhores do Teatro Piauiense.  

Pergunto a Edite qual o seu maior sonho e ela entrega: “Há dois anos meu maior sonho era ser atriz reconhecida nacionalmente e internacionalmente. Hoje meu sonho atual é um mundo sem violência, barbaridade e crueldade. Que as pessoas pensem mais em Deus”. 

Edite Rosa finalizou recentemente as gravações da série “Sementinha”, de Moisés Bittencourt, no Rio de Janeiro. Teve as gravações de “Babaçu Love”, de Cícero Filho e “Hortelã”, de Thiago Furtado adiadas e “Casa de Penhores”, texto de Isis Baião e direção de Arimatan Martins, interrompida. Deus é mulher. E é uma mulher atriz. 

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LÉO GALVÃO é Relações Públicas, faz amizades na fila de qualquer lugar e dentro do elevador. Dorme cinco horas por noite, odeia palavras em inglês e é devoto absoluto de paçoca, maria-isabel e carne de sol, nesta ordem.

Nesta edição, Peixe Voraz traz ilustração do artista Herbert Loureiro – @HERBBBBIE

Publicado na Revestrés#47. 

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