Enquanto a bola rola nos gramados da Rússia e o nosso milionário escrete canarinho busca não apenas o hexa, mas a redenção pós desastre de 2014, seguimos aqui produzindo a nossa Revestrés. Esta é a edição #36, veja você, que foi fechada em meio ao nosso 7 a 1 cotidiano: paralisação de caminhoneiros, retirada de direitos trabalhistas e a meses de uma – quem sabe – eleição para presidente que deixa todo mundo um pouco de cabelo em pé – quem ainda os tenha, claro.

 

Mas, desesperar jamais. Aprendemos muito nesses anos e estamos aqui trazendo mais arte, mais gente pensando e criando, mais gente resistindo e acreditando que amanhã vai ser outro dia. Mais do que acreditando, se reinventando e fazendo por onde. Uma dessas pessoas é a nossa entrevistada: a professora Maria Sueli Rodrigues de Sousa. Mulher, negra, que nasceu em 1964 – “isso lá é ano pra nascer?” – que, de família de retirante da seca, chegou a socióloga e doutora em Direito. Sueli diz que 99% da vida são luta. E conta pra você um pouco de suas lutas, que vão de enfrentar o preconceito na sala de aula a seguir acreditando na política como centro da sociedade.

Na reportagem, contamos algumas das histórias de bandas que fizeram – e fazem – história no Piauí tocando e cantando músicas de outras bandas – e, aqui e ali, as suas também. Trazemos uma matéria que mostra como montar um clube literário, e alguns exemplos de clubes que andam espalhando literatura Brasil afora, em um movimento que usa a internet como potencializador de contato com… livros! Livros “físicos”! Nossa intrépida repórter gastronômica foi a Picos, no interior do Piauí, conhecer o “bode assado do seu Almeida”. Ela conta um pouco dessa experiência e revela: o bode do seu Almeida não é bode. Como assim, gente? E como a gente sempre faz algo meio de revestrés, a seção RévesBrasil nesta edição é com um argentino. Que, aliás, é armênio. Conversamos com Hayrabet Alacahan, um louco por cinema independente que é referência no mundo e diz que, para ele, pouco importa o cinema comercial. Vale ler.

Para encerrar, nosso ensaio em clima de Copa não traz figurinhas das estrelas do futebol mundial nem mostra o glamour das nossas celebridades futebolísticas. Com fotos de Cícero Rocha, piauiense que há anos registra momentos do futebol do Piauí e é nosso personagem da seção Tipos, destacamos alguns momentos dos goleiros piauienses. Sim, os goleiros, esses anti-heróis, esses artilheiros de revestrés que vivem o paradoxo de trazer felicidade ao mesmo tempo em que têm, como missão, impedir a alegria dos gols.

Espero que tenhamos conseguido fazer, dessa edição, uma bola dentro. E deixamos aqui uma das pérolas do impagável Neném Prancha, o grande filósofo do futebol, que mostra que o glorioso esporte bretão tem sempre tudo a ver com a vida e, em especial, com o Brasil: “Futebol moderno é que nem pelada. Todo mundo corre e ninguém sabe para onde”.

Boa leitura.

Foto de capa: Cícero Rocha.

Na foto, defesa do goleiro Ivanoé, do Oeiras, frente a aproximação de Eduardo, jogador do Flamengo. O jogo, pelo Campeonato Piauiense de 2001, aconteceu no Estádio Gerson Campos , em Oeiras, com mais de 2 mil pagantes e teve como resultado Oeiras 2 x 1 Flamengo. A foto é de Cícero Rocha, que há décadas registra o futebol do Piauí.

(Editorial da Revestrés#36 – maio-junho de 2018).