É mais que comum ouvirmos variações linguísticas que identificam um povo, um traço cultural. No Piauí, temos o dialeto Piauiês, com suas peculiaridades e artimanhas as quais azeitam as relações pessoais, desenhando uma atmosfera de cumplicidade e conterraneidade.

A carga nuclear de uma variação diatópica(ou regional) é o reconhecimento de um tratado que beira o bairrismo, criando a impressão de um papo entre compadres. Por aqui é assim. Apesar de uma infinidade invencível de termos e expressões inerentes ao nosso idioma, a capacidade inventiva do povo não suportou catalogar somente as mais de quinhentas mil palavras da Língua Portuguesa e foi lá e criou mais!

Agora peço licença pra norma culta padronizada e vou usar o meu tradutor natural para o Piauiês. Não se aperreie não, você pode vir comigo, deixe de qualiragem. Com essa ruma de palavras numa lapada só… Vixe…virou um desassossego. Acochar tantos  significados é de lascar! Pra num frescar com a sua paciência e meu texto não ficar ingembrado, vou bodejar pouco, senão eu vou torar mi seco. No Piauizão vibrante, temos mondicoisa maravilhosa…nossa música local é atuiada de um valor cultural incontável. É no povo e nas suas marmotas que habita o lúdico. Nossa riqueza nunca foi material, mas somos estribados de um valor imaterial: nossa crença, nosso caráter, nossa luta! Que orgulho de ser piauiense e poder levar um tiquim de nosso tesouro linguístico para outros horizontes….mas depois capo o gato e abero no rumo de casa.

Eu me abro é com o falante que se aguneia pra parecer intelectual e não percebe que a roupagem frasal não é o mais importante, o que importa de verdade é a assinatura cultural. Chega a dar gastura quando percebo um preconceito ligado ao regionalismo, ao sotaque ou a qualquer outra manifestação legítima de um povo. Diabéisso? Quem tem a balança capaz de julgar qualquer manifestação cultural? Seu ninga! Somos todos falantes de um mesmo idioma, a inculta e bela Língua Portuguesa. Meus amigos, como diria Ariano Suassuna: “ Em redor do buraco, tudo é beira”. Em resumo, assumo que quero ser universal, mas “universal no meu quintal” !!!