1. Primeiro longa-documental sobre a cena LGBTQIAPN+ no Piauí. A temática trans já foi abordada em outros filmes (como o documentário Kátia, dirigido por Karla Holanda, em 2013), mas Comigo Num-se-Pode é pioneiro na busca por identificar a pluralidade das vivências na comunidade gay, sobretudo na capital teresinense. O recorte temporal da pesquisa – de 1980 aos anos 2000 – também ajuda a perceber a evolução do movimento político-social, na luta pela representação da diversidade e dos direitos de todos os cidadãos e cidadãs.

    Samantha Menina em framme do filme – estreia em 23 de outubro

  2. Primeiro longa-metragem de Tássia Araújo. Artista audiovisual há mais de uma década e curadora da Parada de Cinema, Tássia é também entusiasta da cena queer na cidade. Fez da sua própria vivência e curiosidade motivação para ligar a câmera. “Quando era mais nova eu frequentava o movimento underground LGBTQIAPN+ em Teresina como público, tudo era novidade para mim”, contou em entrevista. “Ver as travestis e as drags montadas, com aquele salto alto, batom que ia além da curvatura natural da boca, figuras diferentes e extravagantes, era algo que me chamava muita atenção”, relembrou. “Na época não me passava pela cabeça fazer um documentário, mas aquelas pessoas já me instigavam visualmente”. Entre pesquisa e produção, o filme levou cinco anos para ficar pronto – enfrentando uma pandemia pelo meio.

    Flyers de festas e arquivos de jornais ajudam a recontar a história

  3. Resgate histórico do centro de Teresina. O relato de várias personagens de Comigo Num-se-Pode têm um cenário em comum: o centro da capital do Piauí. As histórias contadas relembram bares e boates localizados em um quadrante urbano que outrora concentrou todo o lazer e entretenimento da cidade. Em esquinas escuras ou boates luminosas, a vida noturna acontecia, às vezes com glamour e graça, noutras com opressão e medo. A diretora escolhe filmar depoimentos em endereços que, ao longo dos anos, deixaram de existir. LN Bar, Medieval drinks, Sótão, Pride, Bar do Prikitim e a famosa Rua Paissandu, historicamente conhecida por concentrar casas de diversão noturna – e que hoje dá vida a lojas comerciais e estacionamentos – vão deixar saudosos aqueles que guardam na memória uma Teresina do passado. E, quem sabe, reacender uma questão sempre atual: cadê o centro histórico que tava aqui?
  4. Linha do tempo da organização política do movimento LGBTQIAPN+. O longa-documental apresenta figuras importantes para a reconstituição histórica da cena queer piauiense: da primeira drag queen da cidade (Fernando Freitas/Samantha Menina) à primeira a criar uma ONG (Monique Santos). Este segundo fato é especialmente importante por marcar uma transição social – de pessoas coloridas e animadas na noite a movimentos sociais organizados que lutam em defesa da dignidade. A conquista da retificação do nome e de uma vaga no mercado de trabalho são discussões que atravessam o filme, desde a consciência política de transexuais veteranas como o engajamento de uma nova geração, representada no filme pela jovem Ayra Dias, membra do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (Fonatrans) e integrante da Articulação Piauiense de Travestis e Transexuais (APTTRA).
  5. Valorização do circuito audiovisual piauiense. Comigo Num-se-Pode será lançado em exibição única em um espaço super tradicional da capital: o Theatro 4 de Setembro, no coração da Praça Pedro II (23 de outubro, às 19h. Ingressos aqui). Só pela experiência de ocupar a região em um domingo à noite – com after de shows na Casa Barro  retomando o caráter festivo cultural do centro – já valeria o ingresso. Além disso, não precisa ser da arte ou cultura para saber as dificuldades enfrentadas pela classe nos últimos anos – da economia ao isolamento social, o setor talvez seja o que mais vai levar tempo para recuperar-se dos impactos causados pela pandemia. O filme só saiu do papel graças ao Edital Piauí de Seleção de Projetos Audiovisuais, lançado em 2017 pela Secretaria de Cultura do Estado. O trabalho envolveu mais de 20 pessoas e, comprar o ingresso, assistir e divulgar é uma forma
    de valorizar a produção e manter vivo um circuito que emprega e gera receita longe dos grandes centros urbanos.