“Samba, nego, branco não vem cá. Se vier pau há de levar”.

O canto ganha as ruas de Laranjeiras, em Sergipe, todos os anos, no segundo domingo de outubro. Pandeiros, ganzás e tambores anunciam a chegada da batalha que combina ritmo africano, dor e resistência: Lambe-Sujos X Caboclinhos é um folguedo criado por negros alforriados.

O mel de cabaú (melado), espalhado nos corpos, reproduz um costume real dos tempos imperiais, quando escravizados se lambuzavam para se camuflar na fuga. Índios contratados por brancos (os caboclinhos) vão à captura. O som do chicote transporta para a tortura e a dor. É uma forma de lembrar para não esquecer aqueles que sentiram na pele a escravidão.

Ramon Ribeiro traz, em imagens feitas em médio formato, um olhar de dentro do Lambe-Sujos. A encenação é folclórica e festiva, mas também triste e sombria. É um tributo aos negros de Laranjeiras, a um pedaço da história e da alma do Brasil.

(Publicado na Revestrés#27 – outubro/novembro 2016).

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