Texto: André Gonçalves

Eles são os anti-heróis do futebol. Deles, diz-se que no chão em que pisam nem nasce grama (o que, claro, não vale mais para os gramados da Champions League ou da Copa do Mundo). Vestindo sempre cores diferentes dos outros do próprio time, às vezes espalhafatosos, raramente discretos, carregam a sina da solidão.

Um artilheiro chuta cinco, seis, dez bolas a gol e, se entrar só uma, é multidão em delírio. Se o goleiro realizar cinco, seis, dez defesas e falhar só uma vez, é um frangueiro. Mão de alface. Barbosa soube disso: carregou o peso da injustiça por longos 50 anos, até a morte. Os goleiros são artilheiros ao contrário, e essa é a sua mágica: trazem felicidade quando evitam a alegria. Goleiro para ser bom tem de comer grama, lambem lama, enfrentar tiros de canhão, saber boar e sair de soco, quase super-homens enfrentando gigantes. Ser goleiro é ser um pouco louco. Mas são eles os únicos autorizados a abraçar a bola. Como quem abraça o mundo. Como quem abraça o sonho. Como quem abraça um grande amor.

Das lentes de Cícero Rocha, que fotografa há décadas os jogos realizados no Piauí, alguns momentos quase mágicos, em que esses atletas voadores se tornam protagonistas, para a alegria ou para a dor. Os únicos capazes de realizar a alquimia de transformar o anticlímax em glória.

(Publicado na Revestrés#36- maio-junho de 2018)