Qualquer sonho é como um impulso documental, a antecâmara que há de resultar em imagens quando abrimos um dos olhos, antes de focar a realidade material que nos cerca. Antes da imagem, só havia os sonhos. Pode-se dizer que eles nos impuseram a necessidade de ter um dispositivo-memória.  

Pode-se dizer que “Antônios e Cândidas têm sonhos de sorte”, projeto de Paula Sampaio, é  parte desse impulso. Ao mesmo tempo que respeita os limites” das rodovias Belém-Brasília e Transamazônica, mote do registro e tradução geográfica de um sonho coletivo de progresso e bem-aventurança (ainda que sob o signo da ruína e da destruição), impõe-se uma busca para além do documental, do cartográfico. 

O registro fotográfico refaz narrativas há muito esquecidas, mas ainda latentes do contato e das vivências (íntimas e compartilhadas) subjacentes àquele percurso. Para ter acesso a eles é preciso trilhar o caminho e merecê-los. É preciso sorte no olhar, sobretudo.  

Adolfo Gomes 

Jornalista e crítico de cinema

Ensaio publicado na Revestrés#39 – janeiro-fevereiro de 2019.