Texto: Layo Bulhão

Paridade desperta o olhar sobre o quanto sabemos de nós e nos lança a um encontro imagético com corpos/índios. Em que ponto nossas raízes tocam ou cortam as veias indígenas? 

Não há distanciamentos, somos envolvidos pelo olhar em cada retrato, que não se encerra na imagem, atravessa o espaço que nos distancia da obra e, de outro modo, persiste na forma de duas figuras em ritual. O pensamento lambe a imagem procurando simbioses, do mesmo modo que ela reflete em avesso a nós.  

Estar  

para  

o outro  

mais do que  

se ver no outro 

Gê Viana vai ao encontro de nossos chullachaqui¹, ou de nossos capelobos², só que o medo aqui, se apresenta no outro que nos vê fragmentado. Nosso Outro perdido é reencontrado e sutilmente apropria-se de uma memória devir, equivalente à própria ancestralidade. Paridade é uma semente germinada no pensamento ou um Vazio questionado. 

 

Chullachaqui¹: Lenda indígena peruana que fala de um ser que toma a forma de um outro igual a si ou de um outrem conhecido, para fazer as pessoas se perderem na mata densa da Amazônia. 

Capelobo²: Lenda popular do norte e do nordeste do Brasil que fala de uma criatura que sai a caça noturna em busca de cães, gatos e recém-nascidos para se alimentar. Tem focinho de anta, corpo de homem e pés da forma de um fundo de garrafa, mas a descrição pode mudar de um lugar para outro, permanecendo as pegadas de fundo de garrafa e seu caráter ameaçador.  

Gê Viana é ligada ao grupo Teatro de Operações (RJ) desde 2011. Participou de residência no projeto Batucada, em Teresina, com o bailarino e pesquisador Marcelo Evelin. É residente criativa da Residência 05 e integrante do Risco Coletivo, com foco em trabalhos nas ruas, ocupações, performance, fotoperformance e lambe-lambe.

(Ensaio publicado na Revestrés#35- março-abril de 2018).