Milhares de homens percorrendo as ruas do centro histórico da cidade de Oeiras com lamparinas acesas em punho. Somente homens! Oeiras é primeira capital do Piauí, a 280 km sul de Teresina. A tradicional Procissão do Fogaréu acontece na noite da Quinta-feira durante a Semana Santa católica. O ritual se repete há mais 200 anos e Oeiras é considerada a capital da fé no Piauí.

 

A Procissão do Fogaréu lembra a perseguição dos soldados romanos a Jesus, segundo os católicos, antes de sua crucificação. Guiados pelo som da matraca – instrumento de madeira e ferro que reproduz o sino da igreja e guia a caminhada -, eles acompanham uma cruz que representa Jesus Cristo. No Fogaréu, o ritual ganha um novo significado: os homens já não procuram Jesus para prendê-lo, mas, sim, para segui-lo.

Em duas filas, eles somam cerca de 10 mil homens, caminham por cerca de 2 km e usam as lamparinas para iluminar o caminho, já que a cidade fica às escuras durante todo o ritual. As mulheres acompanham o percurso tomando lugar nas ruas e praças ou oram na Catedral de Nossa Senhora da Vitória, onde a Procissão tem início e termina.

As lamparinas acesas criam um visual de extrema beleza ao iluminar as ruas. Alimentadas por óleo diesel ou querosene, elas  eram originalmente produzidas em alumínio, semelhantes as que iluminavam casas do sertão nordestino em outros tempos. Com a chegada da luz elétrica, começou-se a aproveitar as lâmpadas descartadas da iluminação pública para a fabricação das lamparinas, e elas passaram a ter um visual único: o bulbo é o reservatório de combustível, com um pavio de algodão saindo pelo bocal e uma armação de metal que fixa a lâmpada a uma vareta de madeira (hoje, com um uso cada vez maior de leds na iluminação pública, outros materiais, como garrafas pets, começaram a ser usados nessa fabricação).
FOTOGRAFIAS PREMIADAS – Quem conhece essa tradição e acompanhou o cortejo foi o fotógrafo Fernão Capelo, nascido em Oeiras. Ele produziu o ensaio Lamparinas do Fogaréu, que registrou a procissão e também destacou as pessoas que a mantém viva: fabricando, vendendo as lamparinas, participando do ritual.
O ensaio foi premiado com o 2° lugar no Prêmio Mário de Andrade de Fotografias Etnográficas, promovido pelo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), oferecido para promover e apoiar a documentação, difusão e valorização das culturas populares brasileiras, num  reconhecimento a diversidade cultural do país.
Atualmente morando em Brasília, Fernão Capelo é formado em Fotografia pela Faculdade UPIS (DF). Em 2024 ele foi selecionado para projeção em vídeo na convocatória da Exposição Coletiva do Festival de Fotografia de São Paulo e convidado a participar da exposição coletiva “W3 e meio”, no Estúdio oBarco, de Brasília, durante o festival BSB Plano das Artes. 
Revestrés apresenta as imagens registradas por Fernão Capelo que compõem o ensaio Lamparinas do Fogaréu e foram premiadas.
 
Os vencedores do Prêmio Mário de Andrade de Fotografias Etnográficas na categoria série foram:
1º lugar: “Canjerê dos Pretos Velhos na Jurema Sagrada de Pernambuco”, de Wenny Mirielle Batista Misael,  @uenni
2° lugar: “Lamparinas do Fogaréu”, de Fernão Capelo de Amorim Rocha, @fernaocapelo
3º lugar: “As Caretas do Mingau”, de Matheus Leite Ferreira, @matheus18
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