A série “É verão o ano inteiro”, da fotógrafa e jornalista Dalila Coelho, nasceu como uma fotorreportagem independente produzida em 2019, que investiga o surgimento das casas de bronze de fita em Belo Horizonte e a movimentação nesses espaços mesmo durante o inverno. Na série, a jornalista percorreu três casas de bronze – Bronze da Ludy, no bairro Floramar; Tamara Bronze, no bairro Álvaro Camargos; e Atrevida Bronze, no bairro Novo Glória; com o propósito de contar a história de mulheres que ganham a vida de sol a sol fazendo bronze de fita em suas clientes.

O que a fotógrafa percebeu ao percorrer esses espaços é que o bronze de fita é uma forma de empreendedorismo feito por e para mulheres periféricas, que constroem seus espaços visando oferecer serviços de beleza para outras mulheres da comunidade e conquistar autonomia financeira.

A arte de construir um biquíni de fita, que é montado diretamente no corpo da cliente, é muito precisa e envolve estudos de geometria e anatomia para conseguir desenvolver um modelo de acordo com o gosto da cliente e que valorize cada tipo de silhueta da melhor forma. A fita isolante é usada pelas profissionais do bronzeamento por ser uma material barato e resistente que garante uma marca precisa, e além de construir todo o biquíni com a fita adesiva, há um esforço em enfeitá-lo com pedrarias, adesivos e fitas coloridas, como forma de personalizar e dar mais destaque para o trabalho feito por cada bronzeadora.

O título da série, “É verão o ano inteiro”, capta essa suspensão no tempo vivida nas casas de bronze, em que basta a presença do sol para as lajes ficarem lotadas de clientes deitadas, em um processo ritualístico de beleza, com a finalidade única de adquirir marcas de bronzeado. O gancho para a produção da reportagem foi justamente por esses espaços estarem movimentados mesmo durante o inverno e em uma cidade tão longe da praia, o que mostra que a cultura do bronze não é sazonal e também não está relacionada a frequentar espaços em que é esperado o uso de biquíni, como praias, clubes e piscinas.

O bronze de fita, como a fotógrafa notou, é uma resistência estética da periferia e um símbolo social a ser seguido por mulheres que se identificam com esse lugar – com suas peles marcadas pelo sol e pela fita isolante.

Foto | Dalila Coelho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Dalila Coelho é fotógrafa e jornalista, de Belo Horizonte (MG) e se dedica a fazer registros documentais de movimentações autênticas das periferias da capital mineira. Em 2020 recebeu o prêmio Décio Noviello de Fotografia e, em 2021, publicou pela Editora Tona o fotolivro “Beleza”, que, além da série “É verão o ano inteiro”, traz “Rituais Estéticos da Periferia”.

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Publicado em Revestrés#51.

Uma das fotos também é capa da edição 51.

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