Enterrar o umbigo é estratégia de permanência. Amarrar um longo fio em um pé de planta, outra.

No entanto, nunca há retorno: é tudo rio, santo lenho, deserto e  primavera. Embora ninguém seja capaz de dizer o passado, é possível agarrar a chance de reiterar os amores, passear pelas feiras, inaugurar um abraço, observar as cabras, quarar as carnes ao sol, construir mapas de reencontros e jamais perder os tesouros. Criar um mundo.  

Para guardar em si um território e muitas vidas é preciso corpo e palavra. A imagem é o gesto. Os olhos do menino seguem cheios do barreiro branco, um filtro de narrativas e entendimentos.

Por Iana Soares, editora de fotografia.

As fotos deste ensaio foram produzidas em Simplício Mendes, cidade a 416 km de Teresina, de onde Sérgio Carvalho foi embora em 1981. Os registros são uma viagem pela memória visual e afetiva do autor que, em diversas voltas ao local, buscou captar o que, para ele, permanecia igual. As cenas compõem o livro Barreiro Branco, antigo nome da cidade.

Sérgio Carvalho começou a fotografar em meados da década de 90, sempre usando a fotografia como expressão artística e documental, com forte viés humanista. Realizou diversas exposições e  participou de salões de arte e festivais de fotografia, tais como FotoArteBrasilia, Festival de La Luz/Argentina, FestFoto (Porto Alegre), Photobook award 2011(Kassel, Alemanha),  POY LATAM 2013, Premio Diário Contemporâneo de Fotografia/Belém/PA e Festival de Fotografia de Tiradentes/MG.

Publicou no ano de 2010, em coautoria com o fotógrafo Paulo Gutemberg, o livro Docas do Mucuripe e o livro Retrato Escravo, em coautoria com o fotógrafo João Roberto Ripper, indicado como um dos melhores livros de 2010 pelo Internacional Photobook Festival 2011(Kassel, Alemanha) e Menção Honrosa no POY LATAM 2013.  Em 2011, publicou o livro Barbearia do Tempo. Nos anos seguintes, publicou o livro Às vezes, criança – Um quase retrato de uma infância roubada, em coautoria com o poeta Rubervam Du Nascimento, e Homens-Caranguejo (publicação coletiva). Em 2016, publicou os livros Caminho das Abelhas (publicação coletiva) e Sereias, em coautoria com a fotógrafa Fernanda Oliveira.  

Ensaio publicado na Revestrés#37-agosto-setembro de 2018.