Ele deu tchau, e saiu. Pela janela, o vi atravessando a avenida. Chegou à parada de ônibus, apalpou o paletó na altura do peito. Sempre usava paletó para tocar. Música merece respeito. Meteu a mão nos bolsos. E voltou. “Esqueci os óculos”. Sorrimos um para o outro. Ouvi a porta fechando, voltei à janela e ele logo voltou a atravessar a avenida. Novamente, na parada, o apalpar e as mãos nos bolsos. E a caminhada de volta, os passinhos curtos um pouco mais ligeiros que o habitual. “Vim buscar os óculos, levei a escaleta e esqueci os óculos”. “Não vai esquecer de novo!”. Novamente os passinhos na avenida. Dessa vez, antes mesmo de atravessá-la, giro nos calcanhares. Levantei, peguei os óculos na mesinha e já o esperei à porta. Em meio a gargalhadas, ele: “Tô velho!”. Beijos um no outro. De volta à janela. Passinhos cruzando a avenida. A parada de ônibus. Dessa vez, o ônibus chegou e ele embarcou. Levando os óculos. Lá, do alto, fui junto. Sempre ia.