O poema

 

Entre o verbo

e o silêncio

a incisão

profunda.

Sem anestesia.

 

 

 

 

Similitude

 

Sedento

o vento

roça brando

as águas oferecidas

dos verdes mares

do mundo.

Meus lábios,

sem menos sede,

bebem as águas profundas

desses seus lábios sem muros.

 

 

 

 

 

Diálogo

 

Meu corpo fala a língua do teu corpo

diálogo de silêncios, denso, inteiro,

antítese do não, da ambivalência

meu corpo no teu corpo, fala plena.

 

Teu corpo no meu corpo livre e tenso

naveganças de ondulosas harmonias

o longo curso da paixão sedento

verbo prenhe de amor e galhardias.

 

Signos raros, os poros, águas, seios,

lábios e pelos, leve o movimento

o alerta guardião iluminado

 

o olhar-espelho de Narciso, a fala

digital, as línguas enlaçadas

a vida emerge, verbo no teu ventre

e nos dizemos para além de todas as palavras.