Nada inútil 

Um homem na rua 

assovia os pássaros assoviam 

o trem assovia 

a chaleira  

E vassoura está lá 

a vassoura varre o dia 

para fora 

varre a poeira 

a rua  

a rua 

cheia de barulho 

cheia de homem 

cheia de seu assovio 

que é 

um cântico de paixão 

uma peça de paixão 

não a peça da Paixão 

mas uma peça que alguns 

conhecem 

o canto da cotovia 

o grito da gralha 

o grito do  

dia inteiro 

em sua manhã 

que está gritando amor 

volta a mim 

E gritando tão 

de repente 

como todos os amantes 

 

de repente triste 

o mundo se apaixona 

todos se apaixonam 

e apaixonados 

assoviando pela 

rua 

inacreditável 

nós fazemos isso 

nós fazemos isso 

aconteceu 

antes do que pensamos. 

 

Outras dívidas 

Estava pensando 

num velho amigo hoje 

como devo telefoná-lo 

devo-lhe um jantar devo-lhe um drink 

tenho alguns dos seus livros 

então percebi 

que estava morto 

e percebi ainda mais 

a necessidade de encontrar um modo 

de pagá-lo 

Pagá-lo 

pagar todo mundo 

pois um dia 

não poderia  

pagar ninguém jamais. 

Caminhei muito hoje 

caminhei os montes e 

a cidade 

Eu pensei em nada 

precisava fazer tanto 

fazendo algo mas a única coisa 

que havia era nada. 

Mark Statman é escritor, tradutor e poeta americano. Professor emérito de Estudos Literários no Eugene Lang College, em Nova York. Publicou 10 livros, entre poesia, tradução e pedagogia.  

Publicado em Revestrés#42 – julho-agosto de 2019.

Tradução de Salgado Maranhão e Alexis Levitin. 

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