Minha mãe
se foi
meio sem
de mim se despedir.
O poeta
se fez rouco.
O poeta
se fez mouco.
Ser forte
era preciso.
Não chorar
era preciso.
Chorei.
O cotidiano
se tornou um vazio
entre os meses do ano.
O céu, tédio:
nuvens de peixes
no cinza do rio.
Ruas e praças
sem nomes nas placas.
A chave dos sonhos
abriu galáxias de estrelas.
Já não me engasgo, mãe.
Apenas com o soluço
de tua ida,
aos mundos dos ventos.
O terraço de minha infância
há de ser sempre
o entreabrir de teu sorriso.
(meigo, simples)
Domingos serão locomotivas de auroras
brotando nas roseiras
cuidados no jardim de casa.
As horas (haverá relógio para medi-las?)
pátinas de um grande armário
repleto de fina porcelana chinesa.
Meras memórias de vozes e silêncios.
9.
Diafragmáticas rotas do ar.
(microvilosidades de sonhos)
Sopro de espantos, além.
10.
No sossego infinito do quarto vazio,
aonde
arrumar doravante teus chinelos
embaixo da cama?
11.
O que coser na velha máquina Singer?
Nossas antigas roupas de criança?
Dedilha, bem sei mãe, na nova harpa
sutis sons de galáxias,
estalos eternos de amor.
Marcos Freitas é poeta piauiense radicado em Brasília. Com vários livros publicados, circula o país divulgando seus textos e participando de feiras literárias.
Publicado na Revestrés#40-março-abril de 2019.