Inti/mi/dade
uma deusa nua
não se insinua diante da cobiça do vizinho
a lhe mirar entre o lusco-fusco das ventanas
e os flashes urbanos da minha cama
não a chame de senhora, por favor
nem de vossa excelência
ela não terá clemência e
lhe cortará a jugular
quando sentir sede & fome
veterana carnívora
de bote armado para dominar
tempestades de desejos
tudo lavado: toalha
baby dool, calcinha vermelha
nossas almas penduradas no varal
Na pista
é cortante tornar-se estranho
de quem já compactuamos
as mais sórdidas intimidades
o baile segue
a orquestra titânica não
conhece o stop! a vida
parou ou foi a eletrola?
a música muda
dá razões a outras
sonoridades no ritmo do Iphone
ouvimos longe no saxofone
a sanfona da saudade
pés rodam na pista
com a força que o corpo empresta
despistar-se, pra quê?
um ovo já não se desfrita
(Poemas publicados na Revestrés#32 – Agosto/Setembro 2017)