Leio teu nome escrito na memória
dos que resistem para além dos muros,
colhendo frutos de pequenas glórias
e paixões miúdas — e até mesmo augúrios -.
seguindo trilhas que são só fagulhas
de vaga-lumes contra um tempo escuro.
Mas, resistindo na curva das unhas,
terçando asas onde a águia mora,
com seus filhotes e suas tertúlias.
Porém, nossa alegria ainda chora,
ao carregar o peso deste incômodo
de estar dentro se sentindo fora;
de tanto enaltecer a paz do lodo,
por entre ardis e usura até sangrar;
com tal cinismo que, de certo modo,
permanecermos no mesmo lugar:
se ainda não sabemos não morrer,
tampouco aprendemos a não matar.
Anne (for Anne Frank)
I read your name, from graven memories
of those resisting, still, in hidden rooms,
gathering the fruit of tiny victories
Fierce feelings – even in the lace of doom -.
pursuing paths of pulsing light , the glow
of fireflies against a night of gloom.
But, clinging with curved nails, they won`t let go,
persist in weaving wings where eagles glide,
protect their gathered young that they may grow.
And so our joy sheds tears that cannot dry,
for we are bent beneath our dismal day,
locked in while feeling on the other side;
and having praised the peacefulness of clay,
among contrivances where new blood spills,
So cynical we ´ve grown that, in a way.
We´ ve never changed at all, unmoved and still:
and if we have not learned how not to die,
we also have not learned how not to kill.
Salgado Maranhão é ganhador de vários prêmios literários (Jabuti, ABL e Pen Clube de Poesias). Seus poemas estão traduzidos em muitos idiomas (inglês, italiano, francês e alemão). Como letrista, tem gravações e parcerias com Alcione, Elba Ramalho, Dominguinhos, Paulinho da Viola e Zizi Possi. Entre os livros publicados: Palávora, Mural dos Ventos, Sol Sanguíneo, A Cor da Palavra e O Mapa da Tribo.
Publicado na Revestrés#41 – maio-junho de 2019.
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