Alforria
Perdi um jeito de amar que eu tinha:
roendo as unhas, fechando os portos
cantando estragos, colhendo ventos
morrendo, incauto, nas entrelinhas
firmando pactos comigo mesmo
negando aos frutos e paraísos
tendo juízo, saudade e zelo
ganhando os mares, não por cobiça
rezando missas dentro do peito
caroabjeto, mínimoimenso
perdi o jeito que era certo
pra estar no posto que me cabia:
amar a luta, dia após dia,
pra não ser amo, nem servo ou guia
perdi o medo de amar que eu tinha
quando roubei a minha alforria.
***
Das vertigens e fumaças
Meus amores duram pouco
Têm o tempo de um cigarro
(e eu largando baganas pelo caminho)
E também trazem consigo
Vertigens passageiras
Mas no fim viram fumaça peito afora
Certa vez me dei ao vicio
E me achei fumando filtros, noite adentro
Até morrer de cansaço
Até perder um pedaço
Do que eu tinha de sagrado
Agora meus amores são tão curtos
Como o tempo de um cigarro.
***
Vivaldo Simão é professor de Língua Inglesa e Literatura no Instituto Barros de Ensino – IBENS – em Oeiras, professor substituto da UESPI – Universidade Estadual do Piauí, músico e poeta.
Publicado em Revestrés#42-julho-agosto de 2019.
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