Fiz a letra do Hino de Teresina. Por amor à verdade, a empreitada me rendeu mais dissabores que alegrias. Para começo de conversa, não fui contratado para escrever a letra do hino. Houve um concurso público promovido pela Prefeitura de Teresina na gestão de Francisco Gerardo (1996). O violonista Erisvaldo Borges compôs uma melodia e me pediu que escrevesse a letra. De pronto, recusei o convite. O único hino que efetivamente canto (às vezes, choro) é do Flamengo. A Maristela Gruber entrou na história e me convenceu a fazer a letra. O que não se faz pelos amigos?
Conheço relativamente bem a história de Teresina. Nela, não há nada de extraordinário ou heroico a não ser o tenebroso B-R-O-BRÓ, que suportamos todos os anos. Então, trabalhei os aspectos que mais se evidenciam na cidade: o sol, os rios, o verde e, principalmente, o povo. Um povo trabalhador, generoso, hospitaleiro.
Entreguei a letra ao compositor e avisei: manterei prudente distância do concurso. A comissão julgadora escolheu a nossa canção. Mal saiu o resultado do concurso, choveram críticas, algumas de pessoas que nunca fizeram uma quadrinha. Para uns, “o ritmo não era adequado”; para outros, “ a letra não evidenciava as belezas da cidade”. Em entrevista, afirmei: anulem o concurso e promovam outro. Não moverei uma palha para impedi-lo.
Firmino Filho oficializou a canção vencedora, transformando-a em Hino de Teresina. Para os teresinenses, nada mudou: a cidade passou 145 anos sem um hino. Ninguém reclamava. Para mim, a oportunidade de, singelamente, cantar a cidade onde moro e vivo. Nada além.
Risonha entre dois rios que te abraçam,
rebrilhas sob o sol do equador;
és terra promissora, onde se lançam
sementes de um porvir pleno de amor.
Do verde exuberante que te veste,
ao sol que doura a pele à tua gente,
refulges, cristalina, em chão agreste;
lírio orvalhado, resplandente.
“Verde que te quero verde!”
Verde que te quero glória,
ver-te que quero altiva
como um grito de vitória
(refrão)
O nome da rainha, altivo e nobre,
realça a faceirice nordestina
na graça jovial que te recobre
Teresa, eternizada TERESINA!
Cidade Generosa – a tez morena
um povo honrado, alegre, acolhedor;
a vida no teu seio é mais amena,
na doce calidez do teu amor
(refrão)
Teresina, eterno raio de sol;
manhã de claro azul no céu de anil;
és fruto do labor da gente simples,
humilde entre os humildes do Brasil!
(refrão)
Cineas Santos é poeta, escritor e editor. Professor e autor da letra do Hino de Teresina. Um dos idealizadores e organizadores do SaLiPi- Salão do Livro do Piauí. Coordena o Espaço Cultural Oficina da Palavra.
Publicado na Revestrés#37- agosto-setembro de 2018.