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Lenora por Janaína

Lenora por Janaína

Lenora Lobo por Janaína Lobo

[Fotos: Sátiro Valença]

Nascentes

 

3 três lembranças para uma noite quente. Ou como falar da minha tia ídola-inspiração em poucas linhas.

A lavadeira.

De criança eu lembro, no teatro assistindo Nósdestinos, lá nos anos 90, tia Lenora dançando e a tia Rosa cantando: ela era uma lavadeira, dançava e tirava da barriga vários tecidos: amarelo, laranja, vermelho, rosa, amarelo, laranja… Aquilo era tão impressionante, tão lindo, tão próximo e tão distante, que ficou na memória estética e sentimental.

O apartamento.

Na sua casa, quando eu ia pequena para dormir lá (era um dos programas preferidos da infância em Brasília), ficava olhando meio hipnotizada todos aqueles quadros lindos de bailarinos espalhados pelas paredes, sem saber que eram Carolyn Carlson, Pina Bausch, Kazuo Ono… Aquele apartamento na Asa Norte tinha cheiro de arte e foi minha primeira biblioteca.

Arroz com capote.

Programa obrigatório nas vindas ao Piauí são as noites regadas a arroz com capote e conversas sobre todas as histórias da História da dança brasileira, pelo olhar de quem faz parte e é testemunha viva (sou uma pessoa de sorte!), de quem conhece todos os personagens e tem tanto conhecimento que escapa pelos poros. Conhecimento encarnado, vindo lá das ladeiras de Olinda, do cais em Floriano e do mundo.

Uma fortaleza de sensibilidade, a mãe de toda a família, fascinada pelo corpo e pela arte do movimento, o olho clínico de quem é a grande mestra da arquitetura do movimento. De quem herdei o ofício maravilhoso e insano de trabalhar com a sensibilidade e a dança.

* Janaína Lobo é bailarina, coreógrafa e arquiteta

** Lenora Lobo é bailarina, coreógrafa e arquiteta

(Publicado na Revestrés#17 – Novembro/ Dezembro 2014)