Fui passar férias com Eugênio em Simplício Mendes. Antes de sairmos de casa para apanhar o carro, mamãe me deu uma nota verde, nova, brilhando. Era pouco dinheiro, eu sei. Mas os gestos de minha mãe fizeram valer milhões. Em Simplício Mendes, conservei-a comigo, mas Eugênio insistiu e fizemos uma pequena farra de bombons e pirulitos. Sofri ao entregá-la nas mãos profanas do dono do bar, na Praça Isaias Coelho. Depois, homem feito, muitas cédulas passaram por minhas mãos. Nenhuma me enriqueceu de verdade. A não ser a que recebi de mamãe, em amor e silêncio. 

 

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Já contei que, numa chuva do último inverno, perdi o ipê amarelo, que se erguia, soberano, na calçada. Não há mais sinal dele entre nós, a não ser na memória. E no espaço do céu, antes ocupado pela fronde generosa e o esplendor das floradas. Mas não falei que havia ganho de presente um ipê branco, que também plantei na calçada. Hoje de manhã, ao sair para caminhar, ele estava florido. E foi grande meu espanto e igual ou maior satisfação ao ver abelhas e besouros sugando o doce do seu néctar. 

 

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Mãe e filha entraram na sala. Naquele momento, tudo nelas era digno e puro, como os vestidos brancos. Senti suas presenças diáfanas, a luta que travavam para vencer a morte. Quando foram embora, deixaram rastros invisíveis no ar.  

(publicado na Revestrés#38- novembro-dezembro de 2018).