Eu brasileiro, confesso, minha culpa meu pecado, meu sonho desesperado… Só meu super-herói predileto, Torquato Neto,  salva, ufa, de Copacabana à margem esquerda do Parnaíba, nesse perigo na ágora, quando a política agoniza, geme, estrebucha e morre na corrente do WhatsApp.  

Talvez não seja ainda – Deus tomara!- a trombeta do apocalipse de São João Baptista, mas as últimas horas do fim estão aí, na nossa cara, urge vivê-las, desesperadamente contá-las, frações de segundos, todos os jogos, o jogo. Quem sabe assim, quem sabe, a gente decifre a esfinge nas dobras e nervuras da fake news. 

Ai de mim, Potycabana, não é o meu país, é uma assombração democrática, é o que temos, é o que somos, por enquanto, quem dera meus velhos grilos e pesadelos setentistas, eram bem mais concretos, cogito. 

Eu brasileiro, confesso, vi esse país, esse Piauí mudando tanto, penso na primeira visita a Guaribas, meu Deus, meu São Raimundo Nonato, lá para as bandas da serra das Confusões, foi um rebuliço, o primeiro vaso sanitário, o primeiro sinal de saneamento, chegou até salão de beleza e uma pioneira autoestima.  

Calma, rapaz, o pesadelo nacional logo passa… Só nos resta ler um romance ou lavar uma trouxa de roupa suja na beira do Velho Monge, lavagem de roupa como arte da autocrítica, assim como as lavadeiras de Alagoas ensinaram Graciliano Ramos a enxaguar as palavras de suas angústias e vidas secas.  

Mamãe, mamãe não chore, comprei “Elzira: A Morta Virgem” em uma oferta no Mercado Livre, leia ficção, mamãe, esqueça os desastres da nossa donzelice democrática.  

Mamãe, não conspire, respire, não alimente paranoias na Internet,  combata o bom combate, mamãe, que tal um arroz com capote e cachaça Mangueira, mamãe tire uma sesta, mamãe eu lhe empresto um sonho de hippie para o calor dessa hora.  

Texto publicado na Revestrés#39- janeiro-fevereiro de 2019.