Karoline dos Santos Oliveira. Seu primeiro nome, veja bem, não é com “c” e, sim, com “k”. Karol Conka canta suas convicções. Rapper, cantora e compositora, no batente desde 2002, tem sido considerada uma das principais representantes do rap feminino no Brasil.

Foto: Mariana Zarpellon

Foto: Mariana Zarpellon

Aos 28 anos, curitibana da gema, Karol Conka disponibilizou no MySpace algumas músicas como Me Garanto, Marias e Boa Festa, mas só lançou seu primeiro single oficial, Boa Noite, em junho de 2011. Na música, já adiantou do que seu primeiro álbum trataria: “Ouça esse som bem alto e se emocione”.

Lançado digital e gratuitamente em 2013 no site oficial da revista VICE e no iTunes, Batuk Freak reúne 12 faixas que misturam rap, pop, funk, eletro e ritmos brasileiros. “Eu comecei minha carreira ingênua e com muita vontade de aprender. A primeira coisa que aprendi foi ter iniciativa de subir aos palcos, gravar meus raps e fazer contatos. Depois escolhi pessoas que pudessem me auxiliar a trabalhar num álbum”, conta Karol Conka por e-mail.

Nos últimos anos seu trabalho esteve em evidência. A artista foi indicada ao prêmio MTV Video Music Brasil (VMB) na categoria Aposta, em 2011; indicada também ao prêmio Retrospectiva UOL com o álbum Batuk Freakna categoria Rap Nacional em 2013 e, ainda no mesmo ano, foi ganhadora do Prêmio Multishow na categoria Artista Revelação. O destaque mais recente foi em abril de 2014, momento em que Karol Conka aparece na lista “Dez novos artistas que você precisa conhecer” da revista Rolling Stone (EUA).

“Sentia vontade de ser como elas, eu me via em quase todas as artistas negras da época e queria ser forte como elas” – Karol Conka

De Curitiba para Paris, Londres e Sidney, Karol Conka também tem feito shows Brasil afora. O contato físico se estende para a interação virtual. Nas redes sociais tem milhares de fãs. Sua fanpage oficial conta com mais de 120 mil curtidas, quase 50 mil seguidores no Instagram e mais de 30 mil no Twitter.

No início, inspirava-se no grupo de rap Fugees, trio musical integrado por Lauryn Hill, que ficou conhecido com a regravação da música Killing Me Softly de Roberta Flack. Karol Conka conta que, na infância, assistia ao DVD de Destiny’s Child, grupo feminino norte-americano, que na última formação teve Beyoncé como integrante. “Sentia vontade de ser como elas, eu me via em quase todas as artistas negras da época e queria ser forte como elas”, continua.

Mas suas influências não são apenas internacionais: Cássia Eller foi a referência brasileira. “Achava minha voz estranha e queria adaptar o canto a ela. Queria achar uma forma confortável de cantar sem precisar forçar, foi quando eu vi Cássia Eller e achei fantástica a maneira dela cantar fora dos padrões e com tanta personalidade. Isso me deu confiança para tentar me arriscar e hoje estar aqui falando da minha arte”, assume.

Karol Conka vai do gueto ao luxo e canta seu lugar de origem em uma de suas músicas: “Manda pra mim quem é do gueto aguenta!/ Vim do gueto pronta pra aguentar”. De visual despojado, defende a liberdade sexual feminina e a escolha da mulher de se comportar como preferir. “Deixa ela, deixa! / Ser livre, seguir sem se importar / Se quiser ir pra qualquer lugar que vá / Não tem asas mas pode voar”, canta na música Sandália.

Negrita doida, causando na “socyedady”, como se refere a ela mesma, Karol Conka sabe o que quer. Sua composição manda recado: “Se é pra derrubar a Babilônia, então que caia!”.

Suas músicas tratam de liberdade e empoderamento feminino. Para você, que posição a mulher ocupa hoje na sociedade?

A mulher ocupa uma posição de muita responsabilidade. Hoje ela é independente, embora ainda muitas mulheres sejam submissas. Vejo uma nuvem de força nos encorajando mais e mais a mostrar que temos iniciativas  e não tememos padrões de sobrevivência.

Suas composições estão acompanhadas de referências à cultura negra. Você exerce a militância através de sua música?

É natural que minhas composições sejam acompanhadas de referências à cultura negra, pois sou negra. Portanto, minha música é negra, minha ideologia é negra e eu prego o que meus ancestrais deixaram, que é coragem pra lutar pela igualdade.

Pop, eletro, rap, funk, ritmos brasileiros. Como você lida com todas essas influências na sua produção?

Pra mim é tranquilo porque nasci com flexibilidade pra ritmos. Eu apenas vivo, me jogo, me divirto e distribuo aquilo que absorvo da minha maneira.

De Curitiba para apresentações em Paris, Londres e Sidney. Você considera que a música brasileira está sofrendo uma descentralização do eixo Rio – São Paulo?

Não sei dizer direito, ainda não parei pra analisar o cenário musical brasileiro nesse ponto específico.

“De pele marrom mandando um som  / De cabelo black usando batom / Tô de moletom quebrando no flow”. Quem é Karol Conka?

Sou eu, uma mensageira da verdade, rs! Eu acredito que uma palavra de conforto em forma de música pode ajudar muitas pessoas e é essa minha dedicação. Eu vivo meus sonhos numa realidade cheia de incógnitas.

 

(Publicada na edição #18)