Revestrés#27.inddUma manhã de sábado e o auditório do Cine Teatro da Universidade Federal do Piauí – Ufpi está lotado. Uma das palestras mais esperadas daquela edição do Salão do Livro do Piauí – Salipi era de Gustavo Lacombe, jornalista carioca de 26 anos, “romântico, corredor de meia-maratonas e feliz proprietário de um bom violão”, como se define.

O público presente, em sua maioria adolescentes entusiasmadas, participava fazendo perguntas e não desgrudava os olhos do rapaz que conversava sobre amor romântico, dor de cotovelo, expectativas, saudade e sentimentalismos. Ao responder a uma delas, Lacombe foi até quem fez a pergunta e a moça, emocionada com a proximidade do ídolo, começou a chorar. Um verdadeiro frisson.  Simpático e atencioso com as fãs, levou duas horas para atender toda a fila de interessados em autógrafos e selfies com o escritor.

Autor de “Destino, Acaso ou Algo Mais Forte” e “O Amor É Para Os Raros”, ele se diz um apaixonado. “Eu cultivo um amor forte pelas coisas que eu faço. Todo esse amor que eu capto do mundo e para o mundo eu canalizo para os textos e tento fazer com que as outras pessoas também sintam isso”. Com quase 100 mil seguidores no Instagram, o autor mantém ainda o @clubedepoisdameianoite, ig proibido para menores de 18 anos que fala mesmo é de sexo, tesão e sacanagem.

Gustavo Lacombe diz já ter sido alvo de críticas nas redes sociais. “No Dia da Mulher, eu tomei porrada de feminista. Hoje eu já sei que não é o meu lugar de fala e acho que preciso ter mais aulas com as meninas pra saber o que eu posso fazer, nem que elas digam: ‘não faz nada não, fica só olhando’”, comenta. Mesmo assim, segue escrevendo sobre seus temas preferidos, entre eles, muitas vezes, a relação entre homem e mulher. “Talvez porque eu ainda esteja procurando um amor”.

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Seu segundo livro é “O Amor É Para Os Raros”. Quem são eles?

Eu digo que raros são aquelas pessoas que se permitem viver as transformações que o sentimento pode fazer na vida delas. Quando o amor chega, te ensina muito sobre tolerância, respeito e, às vezes, autoconhecimento porque você aprende sobre seus próprios limites. O amor se torna esse exercício de enxergar os defeitos do outro e perdoar, aceitar e tolerar. Você também sabe que o outro vai enxergar defeitos em você e que também vai ter que fazer o mesmo processo se vocês quiserem ficar juntos. Não é todo mundo que tem essa coragem hoje. Então, raros são aqueles que se permitem viver tudo isso. É um tudo bem grande.

Em um de seus textos, você considera que todo homem tem um príncipe interior. Mas, hoje em dia, muitas mulheres rejeitam essa ideia de um relacionamento idealizado. Você acredita em contos de fada?

A gente tem muito aquilo “eu sempre sonhei com aquela pessoa”. No fundo, acho que não existe ninguém certo porque sempre vai ter alguma coisa no outro que incomoda. Quando eu falo príncipe, é alguém que chega e consegue transformar sua vida tal como o príncipe faz nos contos de fada. O amor faz a gente querer ser a nossa melhor versão todos os dias e, esse príncipe de que falo, é a melhor versão que o cara pode ser.

Você escreve também na internet e para um público que se expressa virtualmente. Você considera que as redes sociais distorcem o modo como as pessoas se relacionam atualmente?

Eu acho que a rede social ajuda você a conhecer pessoas de todos os lugares. A nossa geração vive a internet de um modo muito profundo e faz com que as pessoas se comparem muito e, também, faz com que os relacionamentos sejam comparados. Na internet, só vai fotos das coisas boas, das coisas que dão certo. As pessoas acabam se decepcionando por não viver só coisas boas. Quando você começa a viver intempéries, as pessoas simplesmente se acostumaram a encontrar outra pessoa.

Você tem milhares de seguidores e um público majoritariamente feminino e jovem. Como você enxerga a mulher?

Que pergunta boa, cara! Como eu enxergo a mulher? Primeiro: ela pode ser o que ela quiser. Eu enxergo a mulher, hoje, como…eu já tomei muita porrada de feminista! Mas, nos meus textos, é uma mulher que não aceita o cara errar com ela…como eu faço literatura, eu acho que existem todos os tipos de mulheres nos meus textos, então, às vezes eu escrevo sobre uma relação que pode ser abusiva para que a mulher se identifique e diga: “eu não posso permitir que isso continue acontecendo”. Ao mesmo tempo, eu gosto de falar do amor gostoso, do amor entre duas pessoas que dá certo. No Dia da Mulher, eu tomei uma porrada porque vieram me falar sobre lugar de fala e eu, como homem que escreve textos, também acho que é uma luta minha, no sentido de escrever alguma coisa a que a mulher tenha acesso e possa identificar que aquilo é ruim pra ela. Hoje, eu já sei que não é o meu lugar de fala. Eu acho que preciso ter mais aulas com as meninas pra saber o que eu posso fazer, nem que elas digam: “não faz nada não, fica só olhando”, que foi o que aconteceu nesse dia. Um amigo me disse que meu romantismo era opressor. Ele é homossexual e fala que não se identifica com isso. Então, eu não ter tido que lutar, faz com que eu realmente veja que preciso sentar com alguém e ouvir do outro o que ele tem para me dizer. É muito legal você receber feedback do público e é isso que me motiva a continuar escrevendo. Tem uma frase que fala que só tem a mesma opinião a vida inteira os ignorantes e aqueles que não querem ouvir a opinião dos outros. Eu já mudei muito de opinião. O amor morre? Amor é para sempre? São várias coisas que já pensei e opinei…

O que é mais interessante para você ao falar sobre amor?

Eu acho que já caí numa zona de conforto em falar sobre amor em textos. Por isso que eu criei outro Instagram pra falar de sexo, que também tem lá seus milhares de tabus. Acho que o amor foi o caminho de entrada, eu pretendo sempre falar sobre isso e, hoje, é mais desafiador ainda falar disso sob uma nova perspectiva. Eu gosto (fala com convicção) de falar de amor, eu sou um cara apaixonado e não tem muito motivo. Talvez porque eu ainda esteja procurando um amor.

(Matéria publicada na Revestrés#27 – outubro/novembro 2016)