Nascido em São Paulo, Eduardo Fukushima mantém a espontaneidade e bom-humor de um brasileiro típico, mas herdou da ancestralidade paterna japonesa a busca do autoconhecimento incofundivelmente oriental.

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(Fotos: Mauricio Pokemon)

Foi atleta de ginástica olímpica durante dez anos, tem estudos em dança clássica e contemporânea, é praticante de técnicas corporais orientais como Chi Kung e Seitai-Ho, além da forma-ção em Dança no Curso Comunicação das Artes do Corpo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC.

Apesar das múltiplas atividades, voltar a atenção para si mesmo é sua necessidade. “Quando começamos a nos olhar mais, muita coisa se transforma e, transformando a nós mesmos, as coisas começam a mudar ao nosso redor”, defende.

Fukushima realizou apresentações de seus trabalhos em vários estados do Brasil e países como República Dominicana, Portugal, Argentina, Bolívia, Itália e Taiwan, além de ter sido premiado com os trabalhos “Entre Contenções” (Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna/2008), “Como Superar o Grande Cansaço” (Rumos Dança Itaú Cultural 2009/2010) e “Homem Torto” (Prêmio Rolex de Artes 2012/2013).

Penso que de uns anos pra cá a gente tá produzindo dança e performance de um jeito que é daqui mesmo. Estamos de olho no global, mas estamos fazendo coisas que são do Brasil.

Eduardo Fukushima

Com este último, Eduardo reúne a dicotomia dos opostos numa criação realizada durante a residência de um ano em Taiwan no ano de 2013. Através do Prêmio Rolex Mentor e Protégé Arts Initiative, sob orientação do coreógrafo Lin Hwai-Min, Fukushima se deparou com um desafio: apresentar o trabalho pela primeira vez em uma sala de jantar de um ex-monastério renascentista em Veneza, que possui uma réplica em tamanho real da pintura “The Wedding at Cana”, de Paolo Veronese, saqueada por Napoleão Bonaparte. Hoje, a obra original se encontra no Museu do Louvre, em Paris.

Presente no Junta#1 – Festival de Dança Contemporânea, que aconteceu no mês de junho em Teresina, Eduardo Fukushima deu workshop de introdução a práticas corporais orientais e apresentou “Homem Torto” no festival. Entre o brasileiro e o oriental, sua árvore genealógica deixou frutos: “Essas práticas fizeram muito sentido na minha vida. Parece que meu corpo já vinha daí”, diz Fukushima.

Em um momento em que a dinâmica da vida atual nos distrai, qual a importância de voltar nossa atenção para si mesmo?

Eu acho que, para a gente mudar o outro ou mudar o lugar que a gente está, antes temos que mudar a nós mesmos. Quando começamos a nos olhar mais muita coisa se transforma e, transformando a nós mesmos, as coisas começam a mudar ao nosso redor. Hoje em dia, no nosso mundo, as coisas estão voltadas para fora. A gente tem que trabalhar, tem e-mail, internet e não temos muito tempo de parar e se olhar. É uma prática que, para mim, é para o resto da vida, um exercício constante e, para quem trabalha com arte, é muito importante para não cair no que está em voga hoje em dia. Então, antes você tem que ver qual é sua necessidade de fato.

O “fazer nada” é muito rejeitado pela sociedade em que vivemos e somos sempre estimulados à produtividade constante. Você acredita na necessidade desse momento? 

Sim. Isso rege muito os animais porque eles só estão, ficam horas parados, sem fazer nada. Nós, humanos, precisamos fazer coisas porque também se a gente só não fizer nada também começa a dar uma angústia, não é? Mas, ao mesmo tempo, o mundo em que a gente vive trabalha para a máquina girar e estamos nesse fluxo, mas a gente tem que estar um pouquinho na contramão dele. Por isso eu acho que não fazer nada é a primeira coisa que a gente faz pra si. Enquanto prática é importante para você conseguir perceber o mundo mesmo.

Seu trabalho também circulou por vários lugares do Brasil e do mundo. Você acha que há um maior interesse para as produções de outros lugares fora do eixo Rio-São Paulo?

Eu acho que sim. O Brasil está mudando muito e as iniciativas mais interessantes estão realmente fora eixo Rio-São Paulo. Isso porque lá já tem muitas instituições, não é como aqui que eu acho que são os artistas que estão meio juntos, são vocês mesmos, pessoas. Eu meio que olho e penso: aqui tem um movimento para a área de dança, performance e artes do corpo que eu acho único no mundo. São Paulo também tem, mas já tá em outro lugar, não é uma rede tão junta como aqui, entendeu? Teresina… Nesse negócio de arte vocês “tão que tão” viu? (risos).

Você é um artista premiado, independente, que tem circulado por vários lugares com suas produções. Que consideração pode ser feita sobre o cenário da dança no Brasil quanto a novas iniciativas e financiamento?

Penso que de uns anos pra cá a gente tá produzindo dança e performance de um jeito que é daqui mesmo. Estamos de olho no global, mas estamos fazendo coisas que são do Brasil. As produções estão crescendo, amadurecendo, mas os artistas ainda estão à frente dos recursos, das instituições, dos teatros públicos, que no Brasil são abandonados. Em todo lugar do Brasil os espaços públicos para arte e cultura estão abandonados. Isso é um horror. Então os artistas estão indo, mas os outros setores estão precários. Só temos esses editais, que eu acho que é um jeito legal, mas não dá pra ser só isso. Temos que melhorar os espaços para eles também agirem e terem grana para convidar o artista para ficar lá criando. Além disso, não temos uma política boa de circulação no Brasil e nem de circulação do Brasil para outros lugares do mundo. Então, sou eu, em São Paulo, vocês aqui. Como é isso? O Brasil é tão grande! Então, tem que ter apoio para a gente trocar. Tenho sorte porque desde 2010 eu tenho conseguido circular, mas, no geral, não funciona assim. A gente está aí, mas o que está ao redor não ajuda.

 

(Publicada na edição#20)