Zeca Baleiro, 47 anos, nascido em São Luís do Maranhão, vivendo em São Paulo e fazendo shows pelo Brasil, é muitos: cantor, compositor, cronista e colunista mensal da revista Isto É. Ele gravou seu primeiro disco em 1997, aos 31 anos. O Álbum “Por Onde Andará Stephen Fry?” ganhou disco de ouro e revelou músicas que despertaram a atenção, como a composição que dá título ao disco e mais: “Heavy Metal do Senhor”, “Salão de Beleza”, “Kid Vinil” e “Flor da Pele”. Esta última, gravada por Gal Costa, garantiu projeção nacional ao compositor.

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Foto: Gal Oppido

José Ribamar Coelho Santos ganhou o apelido Baleiro antes da fama, pelo hábito de consumir doces e balas. Na música, ele se destacou pela poesia e humor nas letras, pelo timbre de voz diferenciado e pela mistura de ritmos brasileiros como samba, pagode e baião. Zeca Baleiro também empresta sua voz a composições de outros artistas, como quando gravou “Proibida pra mim” (em 2009), dando a sua versão para a música de Chorão, da banda pop-rock Charlie Brown Jr.

Do início da carreira até hoje já são oito discos de músicas inéditas, sendo o mais recente “O Disco do Ano”, lançado em 2012. No site oficial (zecabaleiro.uol.com.br), há músicas e vídeos para download e também curiosidades – a quem interessar possa –  como “sou ariano, do terceiro decanato, com ascendente em Câncer e Lua em Capricórnio. No horóscopo chinês sou Cavalo de Fogo”.

Zeca Baleiro tem cinco discos de ouro, trilhas em novelas, cinema e espetáculos de dança, é produtor musical, participa de publicações nacionais e é autor do livro “Bala na Agulha – reflexões de boteco, pastéis de memória e outras frituras”(2010), que reúne textos que ele escreve em seu site, “mais à guisa de blague que de blog”, como define.  Com simpatia e humor, entre um trabalho e outro – ufa!- Baleiro arrumou tempo para responder as perguntas de Revestrés. Como diz seu primeiro álbum de sucesso: “Se correr o bicho pega, Stephen, se ficar o bicho come”.

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O Maranhão tem alguns nomes que são destaque nacional na música e na literatura. Na sua opinião, o que separa e o que une Maranhão e Piauí em termos de produção cultural?

Alguns nomes não, tem muitos (rs). Mas o Piauí também tem. São do Piauí dois de nossos mais importantes poetas: Mário Faustino e Torquato Neto. O que separa? O rio Parnaíba, né?  Mas há vários fatores que são pontos de contato: a culinária, o vocabulário, o imaginário popular e mesmo a música dos dois lugares tem muitos traços em comum.

Seus dois últimos trabalhos (O Disco do Ano e Lado Z Vol 2 – este último é umacoletânea) foram bem recebidos pela crítica. No entanto, em “Mamãe no Face” você provoca a crítica, citando inclusive nomes de veículos de comunicação. Como é a sua relação com a crítica da grande mídia?

Uma relação de amor e ódio, como deve ser (rs). Não é porque a crítica recebe bem um trabalho meu que eu vou me calar, certo? Tenho senso crítico e opinião e tenho um canal de expressão, que é minha música. Além do mais, não tenho rabo preso com ninguém. Então falo o que quero falar, sem medo de ser feliz. Sempre que acho pertinente, claro.

Na mesma música (Mamãe no Face) você canta: “Não sou mainstream nem sou Cult./ É bom ser experiente, ainda mais independente”. Quem é Zeca Baleiro?

É esse cara num meio de caminho entre o mainstream e o cult (rs). Um cara culturalmente promíscuo, que gosta de se relacionar com outras linguagens e outros artistas.

Há quem diga que suas letras às vezes abusam do trocadilho. Você concorda?

Esse comentário é fruto de uma extrema ignorância. Quem o faz é gente que não sabe distinguir um “trocadilho” de outros recursos de linguagem, como “aliterações”, “paráfrases” etc. Se você for dissecar minhas letras, vai ver que há poucos trocadilhos, na  verdade. O que as pessoas fazem é colocar tudo no mesmo pacote.

Com as grandes mudanças na indústria fonográfica, alguns artistas passaram a fazer uma quantidade maior de shows. Como você tem equilibrado venda de discos e shows?

Sempre fiz muitos shows porque sempre adorei estar no palco. No caso do compositor, há outras fontes de renda, como direitos autorais por exemplo. Pra mim nada mudou muito.

O que é mais difícil e o que é melhor em se tornar um artista conhecido no Brasil inteiro?

O melhor é que você pode tocar no país inteiro – e nosso país é bem grande, né? Isso nos possibilita passar um ou até dois anos em turnê com um mesmo disco. Mais difícil? Não sei… Quando descobrir, te falo.

Que relação você mantém com o Maranhão e com o Nordeste?

Uma relação profunda. Tenho muitos amigos e familiares no Maranhão, e me interesso por tudo que diz respeito ao meu Estado – cultura, política etc. Também tenho uma relação muito amorosa com o Nordeste, me sinto em casa, afinal o Nordeste é como um país que, apesar da diversidade, da alma multicolorida e repartida em tantos Estados, tem muitos valores em comum.

(Publicado na Revestrés#8)