É preciso mais que fôlego para imergir neste Rio Subterrâneo. É, antes de tudo, necessário ter coragem para enfrentar a correnteza de amor, morte e loucura com que ele arrasta e te puxa pra profundeza de um sumidouro melancólico e delirante.
Durante o ensino médio, conheci o autor piauiense O. G. Rego de Carvalho, durante uma oficina de leitura promovida pela escola, em que autores regionais estavam sendo homenageados. A primeira leitura de O. G. Rego a que tive acesso foi “Ulisses entre o amor e a morte”. Aquilo me causou um abalo súbito. A obra comovia com uma habilidade de unir pontas soltas de sentimentos, numa característica ogerreguiana nunca vista antes. Era inadiável saciar a fome de conhecer mais e mais sobre esse autor e entregar-me ao sublime regozijo, com uma deliciosa satisfação intelectual semântica. Já era tarde demais para resistir ao que se transformou em vício irremediável.
Depois disso, conheci a obra que me tiraria o sossego e fui ressignificando alguns sentimentos que habitavam em mim àquela ocasião. A verdade é que nunca me recuperei por inteiro após a leitura de Rio Subterrâneo, de O. G. Rego de Carvalho.
Jorge Amado, Érico Veríssimo e tantos outros estavam certos quando desfilaram elogios a esta obra inexplicável. Carlos Drummond de Andrade escreveu uma carta a O. G. Rêgo de Carvalho declarando: “Do romance (Rio Subterrâneo) tirei forte sensação de obra calcada no que o homem tem de mais dolorido e profundo, e trabalhado com aguda consciência artística. É desses livros que a gente não esquece”.
Intimamente, tenho por preferência a primeira parte da obra – Limbo – a qual, certa vez, foi considerada pelo crítico Hélio Pólvora como um monumento solene da prosa brasileira.
Imagine uma narrativa fantástica, que se inicia às 18h de um dia e finda às 18h do dia seguinte, entrelaçando características de tempo psicológico e personagens misteriosos, cobertos por um manto de profunda introspecção. Este é o universo em que mergulhou o próprio autor, com mais paixão que lucidez, levando-o a um desgaste físico e emocional. O. G. Rego confessou uma paixão incontrolável por Rio Subterrâneo que o levou à doença e à depressão.
É uma dessas obras que você não pode se privar da experiência de ler. Conhecer a fúria e o imaginário surpreendente de Rio Subterrâneo é imperioso para se extrair de lá um pouco do insondável caos de que somos feitos. Boa leitura!