A pandemia da Covid-19 tem sido marcada por discursos de ódio e desinformação contra as instituições nacionais e internacionais de saúde, impactando o enfrentamento do coronavírus. O nosso objeto de estudo são as postagens do presidente Jair Messias Bolsonaro no Twitter, no período de 22 a 31 de março de 2020. A partir de então, pretendemos compreender como esses conteúdos se disseminam na referida rede social, e qual o papel de influenciadores digitais nessa disseminação. Contribuem para este estudo os seguintes autores: Charaudeau (2006), Foucault (1997), Solano (2018), além, é claro, de outros importantes autores vinculados ao método de pesquisa social, a Análise de Discurso Crítica (ADC), tais como Fairclough (2016), Resende; Ramalho (2011), Ruth Wodak dentre outros.

O ódio não é um fenômeno irracional, mas um “discurso”. Mesmo que não resista a contra-argumentos, ele é uma expressão articulada, intencional e preparada por meio de uma linguagem verbal.

Segundo Glucksmann (2007) o ódio não é um fenômeno irracional, restrito ao campo dos sentimentos obscuros, mas sim um “discurso”, ou seja, mesmo que não resista a contra-argumentos ou que não apresente razões suficientes para sua própria manutenção, o ódio é uma expressão articulada, intencional e preparada por meio de uma linguagem verbal. Para a ONU, o discurso de ódio é categorizado como “expressões que defendem a incitação ao dano […] com base na identificação de alvos com um determinado grupo social ou demográfico” (UNESCO, 2015).

Utilizamos o conceito de desinformação ao invés do conceito fake news, por dois motivos específicos: o primeiro, um critério da notícia é que seja checada antes de ser veiculada. Depois, acreditamos que haja certa intencionalidade no conteúdo das falsas informações, que chamaremos de conteúdo desinformativo.

Jair Messias Bolsonaro nas postagens feitas nesse período acima citado utiliza como estratégia discursiva repassar para os governadores e prefeitos a responsabilidade de políticas públicas adotadas por seu governo.

Observamos que quando contas verificadas1 no Twitter que não concordam com o discurso de Jair Bolsonaro compartilham essas postagens contribuem com a visibilidade desses conteúdos, indiretamente, fazendo com que o algoritmo da rede social entenda aquele conteúdo como relevante e o repasse ao maior número de usuários.

Compartilhar postagens de Bolsonaro, mesmo que não se concorde com elas, contribui com a visibilidade, fazendo com que o algoritmo entenda aquele conteúdo como relevante e o repasse ao maior número de usuários.

É necessário, nesse sentido, repensar o fact-checking para minimizar a circulação de conteúdo desinformativo. Da mesma forma, deve-se adotar estratégias que ampliem o alcance de conteúdos checados, de tal maneira que eles cheguem ao maior número de pessoas, para além das bolhas ideológicas. É fundamental que o texto seja claro, atrativo e de fácil linguagem, para que chegue a diversas camadas da sociedade. Quando Jair Messias Bolsonaro reproduz conteúdos desinformativos, os efeitos geram discursos de ódio para a sociedade, muitas vezes dissimulados, mas com sérias consequências.

Consideramos importante a análise da ação discursiva de atores políticos que validam os discursos de ódio, ampliando a visibilidade nas redes sociais, autenticando-os com o propósito de conquistar a adesão de seguidores e legitimar, como ocorre com a rede que dissemina os discursos do presidente.

1 Contas verificadas são perfis que passam por uma autenticação na plataforma digital devido a sua influência.

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Rannyelle Andrade é Mestra em Comunicação pela UFPI (Universidade Federal do Piauí).

Laerte Magalhães é Doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPI.

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Publicado em Revestrés#49.

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