“Chico, vontade de comer uma língua”, diz a mulher grávida. “E onde vou arrumar língua de boi hora dessa, mulher?”, responde o marido. Essa é a conversa inicial do curta-metragem piauiense “Boi de Salto“, primeiro filme de ficção da cineasta e artista visual Tássia Araújo. Nos minutos iniciais, o filme parece seguir o enredo tradicional da história folclórica do Bumba Meu Boi: Catirina (ou Catarina), mulher grávida, trabalhadora numa fazenda, deseja comer a língua do boi mais bonito do local. Seu marido, Francisco, para atender o desejo da esposa gestante, mata o animal e retira sua língua. O casal é descoberto pelo dono da fazenda que, enfurecido, jura vingança e parte em busca dos dois. No fim do auto, os personagens conseguem ressuscitar o boi, o casal é perdoado pelo fazendeiro e, como celebração, promove-se uma grande festa.

O Bumba Meu Boi é uma festa típica da região Nordeste do Brasil, também presente na região Norte. O boi tem diferentes significados. Para os trabalhadores rurais, por exemplo, o animal era companheiro de trabalho. Para os proprietários de fazendas, um investimento. Na ocupação do Piauí, teve papel central na distribuição pelo território. No folclore regional, é personagem destacado. No filme de Tássia,  ganha ares de uma fábula sobre liberdade, resistência e reinvenção das tradições.

Abdias, menino filho do casal Catirina e Chico, cresce entre a lida com o boi como meio de sobrevivência e o encanto com a festa de Boi,  suas danças, rituais, cores, figurinos. Tudo muda quando Abdias experimenta um salto alto brilhoso para dançar o Boi. Ele é impedido de participar. Decide então criar sua própria tradição. Ou apostar em sua própria ressureição. Assim, o filme Boi de Salto traz mais uma possibilidade de significado à tradição: celebra os corpos dissidentes que desafiam o silêncio com alegria, beleza e invenção. Não à toa, a divulgação do filme traz o ditado popular: “Do boi tudo se aproveita, até o berro”.

Tássia Araújo já é autora do longa documental Comigo Num se Pode (2023). Seu primeiro filme de ficção, Boi de Salto, tem direção de fotografia de Maria Navarro e participação do Boi Imperador da Ilha, que tem  91 anos de tradição,  representando também a resistência e reinvenção da cultura popular.

O curta é protagonizado por Mikael Costa no papel de Abdias. No elenco também estão, Kelly Campelo, que faz a mãe, Catarina; Luca Santos é pai, Chico; e Pedro Wagner é Seu Amaro, dono da fazenda. O filme foi realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo – Piauí e será lançado em festivais no Brasil durante este segundo semestre.

Sinopse
Após fugirem da fazenda de seu Amaro, pai Francisco e mãe Catarina chegam à Teresina para começar uma nova jornada. Abdias, sonha em dançar de salto alto, no grupo mais tradicional de Bumba-Meu-Boi de sua cidade. Depois de ser impedido, Abdias cria uma tradição para si mesmo.

Sobre a diretora
Tássia Araújo (1987), de Teresina (PI), é artista visual e cineasta. Atua em projetos sobre memória, identidade e vivências LGBTQIAPN+. Em 2023 lançou o documentário longa-metragem “Comigo Num se Pode”, exibido nos festivais 19° Panorama de Cinema (BA) e XII Rio LGBTQ+, 3° Transgender Film Festival (FL).
Em 2025, estreia “Boi de Salto“, curta-metragem de ficção selecionado na Lei Paulo Gustavo–PI. É jornalista, pós-graduada em Direção de Arte, com formação na Escola Roteiraria (2024-2025/SP).

 

Ficha técnica
Roteiro e Direção: Tássia Araújo
Doctoring: Vera Egito
Direção de Fotografia: Maria Navarro, DAFB
Produção: Érica Santos
Edição: Carina Bueno e Priscila Guedes

Casting e preparação de elenco: Zé Reis

Elenco: Mikael Costa, Kelly Campelo, Pedro Wagner, Luca Santos
Ano de produção: 2025
Gênero: Drama
Duração: 14 minutos
Local de filmagem: Teresina – PI
Financiamento: Lei Paulo Gustavo – Piauí
Produção: Clandestina Filmes
Participação especial: Boi Imperador da Ilha e mestre Raimundo Pereira

Mais informações: instagram.com/boidesalto/

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