Ele nasceu João Flávio Cordeiro da Silva, em 6 de agosto de 1960, no Recife. Nas ruas da capital pernambucana, virou poeta performático. Preto, pobre e vítima de racismo, saiu da periferiade Recife e rodou o País com a sua arte. Quando morreu, em 31 de julho de 2022, era Miró da Muribeca, uma referência na poesia urbana brasileira. A trajetória percorrida pelo poeta, em seus 61 anos de vida, é revelada em detalhes na biografia que a Companhia Editora de Pernambuco lança nesta sexta (21), em Teresina, como evento de Pré-Balada Literária.  

Miró da Muribeca | Foto: Pedro Escobar

O lançamento em Teresina e será no Maria Café, com a presença do autor do livro, escritor Wellington de Melo. “Estou Quase Pronto: uma biografia de Miró da Muribeca” explora a infância, vida pessoal, as viagens, os encontros poéticos, os problemas com o alcoolismo e o reconhecimento nacional do homem que traduziu em poemas o cotidiano das ruas. Na biografia, “Miró é apresentado com todos os seus defeitos, com todas as suas virtudes, e isso é uma coisa interessante porque humaniza a figura biografada”, diz Wellington de Melo. Romancista, editor e amigo do poeta, ele acompanhou a luta de Miró contra o câncer nos dois últimos anos de vida.

O fato de ser amigo, diz ele, tanto ajudou quanto dificultou na hora de escrever a biografia, que traz informações inéditas para os admiradores da poesia de Miró. “Ajudou porque eu pude ter acesso direto ao processo de enfrentamento da doença e a questões muito íntimas que Miró não tinha revelado até então. Ele teve essa abertura para falar coisas de maneira franca, coisas que muitas pessoas que conviveram com ele talvez não saibam e, comigo, ele pôde revelar”, destaca Wellington de Melo.

A parte difícil era definir quais informações poderiam ser publicadas. “Eu precisava tomar decisões sobre o que revelar e o que não revelar, que eu acho que para um biógrafo são coisas mais objetivas, mas o fato subjetivo de ser amigo me colocava numa situação delicada, então isso em alguns momentos dificultou. Não acho que o fato de ser amigo influenciou no sentido de ser uma biografia chapa branca”, afirma. O livro tem 392 páginas, com fotos raras de Miró em diferentes períodos da vida.

Além das fotos pouco conhecidas, entre o material inédito da biografia há cartas de namoradas do poeta na década de 1980. “Essas cartas foram esclarecedoras de vários aspectos tanto da personalidade dele como para confirmar algumas dúvidas com relação a datas”, relata Wellington de Melo. “Fora isso, tem muitas coisas que aconteceram no período da internação dele que o grande público não sabe e terá acesso a partir da leitura da biografia, e também grandes presepadas de Miró que só são conhecidas, às vezes, por grupos diferentes, nas cidades onde ele viveu.”

Wellington de Melo: escritor, amigo de Miró e autor da biografia

A capacidade de Miró de cativar pessoas está expressa na biografia. “Ele sempre conseguiu ter redes de apoio que fizeram com que ele pudesse, de alguma forma, trabalhar com sua arte, viver a sua arte de maneira mais plena”, diz o escritor. “Isso seria impossível sem várias pessoas que, ao longo da vida dele, o cercaram. Isso não quer dizer que foram sempre as mesmas, havia ciclos porque a convivência com Miró, o jeito dele de ser, tanto alegra como fere também, então em alguns momentos as pessoas precisavam ser curadas dessa presença que, às vezes, era muito intensa.” Fazem parte da extensa rede as poetas Cida Pedrosa e Maria do Carmo Barreto Campello de Melo (1924-2008), o artista plástico Maurício Silva e o médico e escritor Wilson Freire.

Wellington de Melo colheu dezenas de depoimentos de amigos de diversas fases da vida, pessoas do convívio e gente que entrava em contato para contribuir com relatos para a biografia. O livro traz explicações sobre a origem do apelido “Miró”, ligadas às habilidades de João Flávio com a bola em jogos de futebol, as agressões sofridas por ser negro, a vida em Muribeca, bairro da periferia do município de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, a descoberta da poesia, as primeiras publicações, as primeiras performances, os incentivos que recebeu para ser poeta, a relação com a mãe, o filho com quem ele não conviveu, os vacilos que cometeu por causa do alcoolismo.

Sobre o autor – Wellington de Melo é escritor, editor e autor dos romances “Emilio” (Cepe Editora), “Estrangeiro no Labirinto” (Confraria do Vento) e “Felicidade” (Patuá) e do poema “O Caçador de Mariposas” (Mariposa Cartonera). É tradutor do poeta Miguel Hernández no Brasil e editou o livro de poemas “Solo para Vialejo” (Cida Pedrosa/Cepe Editora), vencedor do Livro do Ano do Prêmio Jabuti de 2020.

Sobre a Balada Literária 2025: Essa é a nona edição da Balada Literária em Teresina. O evento teve início em São Paulo, criada pelo escritor Marcelino Freire. Em Teresina, é conduzida pelo escritor e professor Wellington Soares. A Balada Literária 2025 em Teresina faz homenagem ao músico Emerson Boy, piauiense e residente em São Paulo. A Balada Literária Teresina 2025 acontece dias 24 e 25 de novembro, com programação manhã, tarde e noite e entrada livre, no Memorial Esperança Garcia.

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Serviço

O que: Pré-Balada Literária: Lançamento de Estou Quase Pronto: uma biografia de Miró da Muribeca, presença do escritor Weelington de Melo, autor da biografia.

Quando: dia 21/11, 19h

Onde: Maria Café, em Teresina.

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