As carnaúbas como testemunhas da história e com muito a revelar sobre a Batalha do Jenipapo, fato que marcou o processo de independência do Brasil em relação a Portugal. Esse é o ponto de partida que levou o fotógrafo e artista Maurício Pokemon a “Árvore que Arranha”, projeto de exposição fotográfica que propõe uma reflexão sobre a memória histórica e biomas nordestinos, colocando em foco a carnaúba, árvore do semiárido, conhecida como “árvore da vida”, pela resistência e diversidade de usos que oferece ao homem. Sua madeira, palha e outras possibilidades, como a cera, são usadas por gerações, e servem como metáfora para o enraizamento de memórias locais.
O projeto nasce a partir da escuta de diferentes vozes que preservam modos de vida tradicionais, em biointeração com os cocais. A proposta é que “Árvore que Arranha” seja mais que um projeto artístico, mas um convite a refletir sobre a história viva e plural do Piauí e sua gente.
As pesquisas de Maurício Pokemon começaram ainda em 2021, quando, inspirado nas provocações do tradutor quilombola Antônio Bispo dos Santos, o Nego Bispo, Pokemon o convidou para colaborar na etapa inaugural da pesquisa em território. Juntos, eles percorreram trechos da Caatinga, conversando com pessoas em diferentes comunidades e partilhando reflexões pelo caminho. O fotógrafo e artista ainda teve influência da professora, escritora e socioambientalista Maria Sueli Rodrigues, que segundo ele, ampliou entendimentos para que o projeto chegasse a esse ponto.
“Passei a imaginar como a gente poderia regenerar a narrativa a Batalha do Jenipapo, quais novas memórias, imagens, poderiam compor esse marco”, diz Pokémon. “Árvore que arranha” recontextualiza o papel histórico e simbólico da carnaúba por meio das pessoas que vivem há gerações nos territórios onde ela é endêmica – Parnaíba, Campo Maior e Oeiras – e que são também territórios ligados aos movimentos de insurgência. A Batalha do Jenipapo é tida como um dos episódios mais marcantes da história da independência do Brasil, por ter antecipado um processo de lutas e por ter unido piauienses, cearenses e maranhenses contra tropas leais a Portugal. Ela ocorreu em terras piauienses, em 13 de março de 1823, em Campo Maior, cidade de paisagem rica em carnaubais.
Mas em vez de ser apenas paisagem para os eventos humanos, Pokemon vê na árvore um protagonismo. Ela é a testemunha que permaneceu, representando a luta cotidiana das comunidades locais. A criação, a partir dessas vivências e imagens, vem acontecendo entre as viagens e a maturação em estúdio, no CAMPO arte/Teresina, onde Maurício reside.
“Árvore que Arranha” foi contemplado pelo Programa Funarte Retomada 2023 – Artes Visuais, que permitiu novas etapas ao processo inicial de pesquisas. Esse trabalho estará aberto ao público em breve, como um convite a reflexão e experiência.
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Serviço
Projeto: Árvore que Arranha
Artista: Maurício Pokémon
Lançamento: 11 de dezembro de 2024
Local: CAMPO – Arte Contemporânea – R. Agnelo Pereira da Silva, 3497 – São João,
Teresina – PI.