Embora solidão tenha sido a nota mais forte na desarmonia que foram meus dias, gosto demais de gente. Aprecio estar só, passear sozinho pelo centro da cidade vendo, observando, namorando as mulheres bonitas com os olhos, os edifícios, aquela dinâmica dos vendedores de rua, vitrines, modos das pessoas, artistas de rua, e os mendigos que perambulam de olhares pedidos em sombras. Mas gosto também de estar com pessoas.

Gosto da vida que explode quando abro meu celular. Adoro que me procurem e que se interessem por mim. Outro dia uma repórter disse que tenho muitos amigos. Verdade. Em onze anos aqui fora, construí muitas amizades. Não tantas quanto desejaria, é bem verdade, mas pessoas que gostam de mim com sinceridade.

Não aceito muito minha natureza febril. Sou apaixonado demais. Entrego-me em excesso ao que estou fazendo. Em geral, as pessoas se assustam. Quando olham em meus olhos e enxergam a voracidade com que as desejo em meu coração, nem sempre reagem bem. Não gosto muito dessa coisa tão caliente, latina em mim. Sou amante dos livros, do intelecto e do espírito. Não combina.

Posso afirmar com honestidade: onde souber que exista alguém parecido comigo, vou procurar. Porque eu o entenderia. É radical demais isso de cada pessoa ser única, sem igual. Nos condena a não saber como somos para o outro. Quantos de nós poderíamos dizer que não se apaixonaria por alguém igual a si? Eu amaria profundamente alguém como eu.

Claro, gostaria que meu telefone tocasse mais vezes; que me enviassem e-mails e que me convidassem mais para festas e reuniões. Mentiria se dissesse que não gosto de estar com pessoas. Acho até que estou chegando a um equilíbrio: gosto tanto de estar comigo quanto gosto de estar com pessoas. Tenho conseguido diálogos muito estimulantes, participado de encontros, palestras, reuniões e debates muito significativos.

Vivo pensando estratégias de me aproximar das pessoas. Escrever é uma delas. Há um apelo em mim pelo outro. Aquele outro que é solitário e vive em separado de mim e que nem me dá importância. Sinto-o necessário, o outro me faz falta. Muitas vezes é através do outro que me enxergo; ele é a passagem para o que serei. O outro me exige, cobra melhoras a cada dia e é desafio constante. A admiração dele me é necessária quanto a luz é para os olhos. Preciso que me mostrem que vale a pena lutar para estar aqui, junto a eles.Quero que gostem de mim, que enxerguem o valor que represento e reforcem minha crença de que os alcançarei com meu esforço.

Hoje sei que a maior parte de meu esforço desenvolvi para estar com pessoas, para que elas gostassem de mim. Quando criança, roubava para comprar afetos e considerações. Depois, quando adolescente cobrei, de armas nas mãos, respeito e só recebi medo. Pensava bastar, mas sobrou apenas angústia e solidão. Agora, maduro (para não dizer velho), estou em outro aprendizado. Dar é melhor que receber; e amar é melhor que ser amado. Compreender é mais inteligente que julgar; e respeito vem como a noite que se recebe ao abrir a janela.

Espontaneidade é a poesia da existência. As atitudes de quem anseia uma vida de verdade são comprometimentos. Estamos na travessia. Além da partida e aquém da chegada. Tudo indica que não importam os caminhos, importa as passadas que se deu no caminho. Os fins jamais justificaram os meios; estes sim demonstram os fins. Vamos acumulando o que vamos sendo.

Em meu entrecortado mosaico de pensamentos, sinto crescer a ideia de que para se viver uma vida de verdade, sempre será cedo, mesmo sendo tarde. Todo dia a vida se atrasa por conta dos encontros vazios que nos carregam para longe. Tudo é sempre outra coisa, como o sonho que não tivemos. Mas insisto; quero viver de verdade, estar verdadeiramente com os outros e assumir atitudes verdadeiras quanto à vida.

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Luiz Mendes

14/01/2016.