Hoje estive pensando sobre a energia, a arte, invenções e possibilidades de novas idéias desperdiçadas, na pessoa de todos os presos de nosso país. Passam de 500 mil homens e mulheres. Parece que podemos dispor assim, perdulariamente, de tais capacidades.
Do que posso entender, os seres humanos nascem com capacidades diferentes uns dos outros. E o Criador distribui tais dons de tal modo que parece, aleatórios. Como o sol que brilha para todos, ai também parece não haver privilégios. Claro, pessoas com mais condições econômicas, terão mais facilidades para desenvolver suas habilidades. Mas isso não lhes garante a genialidade. Há muitos exemplos de homens que não possuíam as mínimas condições existenciais, mas cujo talento, arte ou capacidade extrapolaram. E foram reconhecidos para todos os tempos.
Poderíamos citar inúmeros. Os grande gênios sofreram muito em suas existências. Para falar só de contemporâneos Marx passou fome com toda sua família; Freud, quando vivia em Viena, só saia de casa à noite: seu único paletó era puído e furados nos cotovelos. Charlie Chaplin ficou órfão aos 9 anos, depois que sua mãe enlouqueceu e morreu de fome para alimentá-lo.
Se quiséssemos recuar na história, poderíamos comentar de Sócrates obrigado a beber cicuta porque ensinava a juventude de seu tempo a pensar. Giordano Bruno; João Huss; e Joana D’arc foram queimados nas fogueiras da Inquisição. Poderíamos citar o fim trágico do Mahatma Gandhi. A vida de 27 anos preso de Nelson Mandela e os 14 anos de prisão (10 dos quais em cela solitária) de Pepe Mujica, por um ideal. Ainda temos o exemplo máximo de Jesus, que era do povo e nasceu como nascem os filhos de mendigos e viajantes da tormenta.
O tesouro da uma nação é seu povo. Não sei quem disse isso, mas verdades não necessitam de nomes para serem evidentes. Mas em que sentido? Na capacidade, cultura, educação, conhecimento e principalmente no sentido emocional da pátria, comunidade desse povo. Quanto mais investimentos na educação, cultura e lazer desse povo, mais fortuna se acumulara. A capacidade humana é transcendente. As vezes dá saltos e eis um brilhante mais valioso. Ou como querem os velhos marxistas: do velho nasce o novo e a síntese promove a história humana.
O que pensar de nosso país? Nosso povo sempre foi vassalo, tangido como gado e condenado à ignorância. Usado, abusado e eternamente relegado a si mesmo, abandonado à sua própria capacidade de se virar. Estamos em pleno século vinte um. O país evoluiu, mas veja como o povo é tratado ainda. As escolas poucas e sempre depredadas. O nível e as condições de ensino da pior qualidade. Embora os esforços dos últimos governos, não há amor e nem respeito pôr esta base da sociedade. As famílias se reduzem aos núcleos básicos para sobreviver. A saúde e a previdência social estão falidas há décadas. Não há lazer barato.
A cultura é uma piada. Quantas existem? Aquela do teatro, consertos musicais, cinemas (agora quase todos em shopping centers), livros, só existe para quem tem como pagar. O povo, relegado à suas próprias condições foi alienado de sua vida nas novelas e no jornal nacional. As favelas e morros fervilham de vidas humanas. Somente nos últimos tempos criou-se programas universitários e da casa própria, financiados pelo governo federal.
Atrás desse povo desvalorizado há séculos pelos que foram responsáveis pela riqueza da pátria, existe ainda um outro nível social. Os marginalizados; os excluídos; os inempregáveis; os perseguidos; os encarcerados; aqueles cujos ouvidos escutam outros tambores. Estes estão além do que o povo recebeu nesses últimos governos. Não terão chances nem de tentar o esforço que o restante da população realiza para melhorar sua condição existencial.
Quantos, entre esses marginalizados, poderiam contribuir para a riqueza da pátria? Quem poderia dizer que descendente de escravos, Machado de Assis pudesse ser o maior literata do país? Quantos de nossos artistas e grandes inteligências nasceram em berço esplendido? Nas penitenciária; filas de emprego; nos locais de catação de lixo, nas instituições para menores infratores ou abandonados, etc., pode estar grande parte da riqueza da nação. E assim desperdiçada, apagados na lata do lixo social.
Que tal começarmos a exigir que se faça alguma coisa a respeito? Até quando, parodiando Gabriel, o Pensador, vamos jogar a riqueza do país pelo ralo?

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