Às vezes questiono se não seremos os palhaços na história da humanidade. Vivemos apressados em busca do que nem sabemos. Sequer desconfiamos do que seja. Transferimos para as coisas nossas frustrações. E compramos compulsivamente. Vivemos dizendo que queríamos descobrir quem inventou o trabalho para esganá-lo com as próprias mãos. E, no entanto, o que seria de nós sem o trabalho? Não digo somente a nível material. Trabalho como expansão da capacidade de produzir com utilidade.

Estamos nos educando para um mundo de diversão, e só temos uma vida de preocupação. Quase autômatos infantilizados, fazemos tudo com metade de nós. A outra metade está preocupada com o após. Até isso é confuso demais. O amanhã não existe mais. Pode mesmo nem vir a ser; de nada sabemos embora de tudo arrogamos. Mas como viver o hoje sem pensar no amanhã? Nós somos seres contínuos, precisamos ter perspectivas e sequências para prosseguir.

O que aconteceu? Provavelmente invertemos a ordem das coisas, como sempre fizemos. Quiçá em busca de fuga, escapatórias e tangência. Perdemos as perspectivas e vivemos para o amanhã, tramando ondas como o mar.

Viver somente o hoje, não sabemos fazer (ou não podemos), nem sei bem. Viver para o amanhã é plena loucura. Vida de prisão à espera da liberdade física para ser. Enquanto isso, os dias iguais continuam a nos perseguir com ameaças de rotina estupidificante. Viver concentrado no hoje, mas abrindo espaço para o amanhã. Pensar amanhã imediato e amanhã futuro. Futuro perfeito e futuro mais que perfeito. Sequenciar o tempo talvez fosse solução.

Solução do que? Como se precisássemos apenas de uma solução para viver. Precisamos de muito mais que isso. Perdemos tempo vivendo por viver, assim perdidos a procurar. Quero só ver quando se esgotar o estoque de tolices e tivermos que apelar para a inteligência. Aliás, demoramos para encarar que temos que agir inteligentemente se quisermos sobreviver.

A população do planeta aumenta cerca de 210 mil pessoas por dia. O consumo dessa população já ultrapassa 20% da capacidade de reposição da biosfera. Os cientistas afirmam que, ao nível que vamos, estamos chegando perto do momento que teremos que parar. Parar para racionalizar e estabilizar. Caso contrário, travaremos guerras pela sobrevivência.

Será o fim do ideal de distribuição com justiça para todos. Talvez seja a solução que julgamos não necessitar. Teremos que proceder quais irmãos para sobrevivermos ou sucumbiremos todos. O que escolheremos? A união para sobreviver com alguma dignidade ou a guerra fratricida pela sobrevivência?

E agora? A par disso, ainda temos outros problemas do amanhã que já é hoje. As tsunamis levaram entre 5 a 10 segundos para destruir milhares de comunidades e matar mais de 250 mil pessoas. Mais de 1 milhão de pessoas ficaram desabrigadas. A elevação da temperatura; o fim da água potável; o esgotamento do petróleo; o buraco na camada de ozônio que só tem aumentado; a fome, a seca e a guerra na África-mãe; terrorismo; escaladas de violência; as enchentes; grandes incêndios; os furacões, terremotos e outras tantas catástrofes que estão acontecendo ou que acontecerão, inevitavelmente.

Sequer cogitamos; esquecidos, acreditamos que nada nos acontecerá. E essa é a armadilha que não podemos cair. Os cientistas afirmam convictamente que a vida se auto-corrigirá e nos golpeará de verdades. Pensar seriamente nisso pode nos trazer dor de cabeça. Mas se estamos condenados a errar como condição de existência, a recíproca deve ser verdadeira. Estamos livres também para acertar e quem sabe sejamos capazes de corrigir e reparar nossos erros? Novas drogas, novas tecnologias (nanociência; robótica; percepções extra-sensoriais?)? Somos mais que capazes, mas temo nossos erros para gerar acertos…

**

Luiz Mendes

01/01/2016.