Cazuza era pós-modernidade pura. Às vezes me pergunto se ele tinha consciência de toda extensão e profundidade do que expressava. O filme que conta sua vida fala da realidade de uma pessoa em conflito. Suaviza, tornando-o socialmente palatável. Cazuza, provavelmente, não aceitaria; seria o primeiro a contestar. Era ídolo e não herói. Até dá para entender; uma maneira de lembrá-lo com o carinho que ele fez por nos merecer.

O comportamento pessoal de um homem é privado, só a ele interessa. Importa como foi sua expressão, sua atuação em relação aos outros e no mundo. Não havia nada de auto-ajuda em suas letras, muito pelo contrário. Ele expressava as constatações que realizava.

Hodiernamente, nós estamos inventando tudo a partir do nada. Até nossos sentimentos. E para Cazuza isso era claro como a água que tomava (que, alias, era bem pouca). O amor tem sobrevivido à vida moderna porque aprendemos a inventá-lo sempre que precisamos. Onde não haja amor, nos tornamos capazes de criá-lo. Aos poucos vamos aprendendo que o amor esta dentro de nós e não no outro.

Hoje ficamos com as pessoas. Namoro tem outro significado, é um grau acima. As pessoas realmente se experimentam. Sexo já não é armadilha que possa prender ninguém. Ficou bem claro que ninguém é de ninguém. Todo aquele que se dá hoje, necessariamente, vai querer se reaver amanhã e depois de amanhã. Somos de nós mesmo e de ninguém mais. Outra coisa: nada é para sempre, tudo tem seu começo meio e fim; quase se poderia dizer que amor tem prazo de validade.

Fazer sexo com amor hoje não significa que vamos amar o parceiro para sempre. Significa que estaremos com todos nossos sentimentos ativados e inteiros no momento que as coisas acontecem. Vai mais além, significa não usar o parceiro e sim participar em igualdade com ele. Sabemos que a intensidade do desejo e do prazer dependem da generosidade de cada um dos parceiros.

O momento antes do orgasmo esta muito mais valorizado que o orgasmo em si. Gozar já não é mais o ápice fundamental do ato sexual. Estamos ultrapassando as idades instintivas. Até a pouco, quando o sexo enrijecia, a exigência do orgasmo era

determinante. Antropólogos afirmam que caso o homem não fosse sexualmente agressivo, já não existiríamos como espécie.

Conheci mulheres que jamais tiveram orgasmos e outras que raramente chegavam ao prazer. Mas que sentiam inenarrável prazer na prática sexual. Elas afirmavam que todo o corpo é sensível. O próprio Tantra fala muito sobre isso. Ensina a segurar o orgasmo para aumentar o prazer. Descobrimos que há prazer o tempo todo. É só estar ao lado do ser que nos atrai.

Parece que finalmente o homem vai se educando. Agora participa ao mesmo nível da parceira em busca do prazer que não é só o orgasmo. E não fomos bem nós que fomos espertos. Elas perceberam e ficaram mais exigentes. Nós, homens, vamos aprendendo aos poucos a viver o que sentimos.

Pobre do homem que tem uma mulher submissa e sem vontade própria a seu lado… Dá até dó. Quem conhece uma mulher plena, emancipada, dona de si e consegue tê-la na cama, é um homem feliz.

E o amor? Perguntariam. Ah! Isso é fácil; como descobriu Cazuza, “O nosso amor a gente inventa…”

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Luiz Mendes

16/02/2016.