A vida é feita de momentos. Assim mesmo; uns atrás dos outros. Construímos nossa vida no tempo. Então, o tempo é fundamental para a vida, já que é nele que a fazemos. Diria até que o tempo é o tesouro da vida. É como o utilizamos que fazemos com que nossa história seja bem ou mal sucedida.

Fiquei pensando o que fiz com essa riqueza na história. O que fiz de meus momentos? Será que soube valorizá-los? Tenho a clara consciência de que não como era preciso ou como eu desejaria que tivesse sido. Quantos erros, quantas fraquezas! E quão poucos acertos! Quantas vezes não soube esperar e quis rasgar os momentos com os dentes.

Falhei quase sempre, e quando acertei, jamais foi totalmente. Nunca fiz nada que fosse absolutamente perfeito. Sempre fui o culpado de quase tudo, mastros, gáveas e velas pesavam sobre meus ombros. Naufraguei, mas o barco seguiu o curso em meio a procelas e marés montantes. Capengando, caindo e tombando, poder-se-ia dizer que, aos trambolhões, eu segui.

Hoje tudo parece que teve um significado. Nenhum tempo foi perdido realmente. Percebo a vida espessa como mel. Cumulativa, de sedimento em sedimento a nos formar. Seguimos de erros em erros e alguns acertos até que estruturas de conhecimento, através de experiências, são formadas. Como recifes e atóis são sedimentados por depósitos calcários de minúsculos corais.

E as correções vão se sucedendo, umas criando escadas para as seguintes. Tudo depende das orientações que procuramos seguir. Então aquilo que já consideramos erros e falhas, transformam-se em bases em que nos montamos. Somos pais e mães de nós mesmos. Nós nos parimos. Somos vencedores sempre, porque mesmo perdendo, ganhamos. Perdas e ganhos são uma e a mesma coisa. Tudo o que vivemos, sentimos e pensamos faz o que somos.

Aprendi, com todos enganos que vivi, que os obstáculos são a própria vida. Ao solucioná-los ou sermos atropelados por eles, estaremos vivendo. Intensa e profundamente. Às vezes, vida é a morte que muda de nome. O vento decepa flores e mastiga vestígios do imponderável. Tudo parece que se perde na noite coagulada quando a escuridão se derrama. O sofrimento nos tolda a visão e tudo parece querer nos destruir. O mundo é rio repressor a nos afogar em naufrágios sucessivos. Parece, não há mais como continuar. O mergulho na dor às vezes é tão imenso que parece expandir-se à nossa vida toda. Passado, presente e futuro, perdem-se num só instante, aglutinados.

Mas, como sempre, viver é solução de todos os problemas que parecem não ter solução. É deixar fluir e seguir em frente. O vento folheia e algo se dilata. Nada como um dia após o outro e a noite no meio, diz a sabedoria popular. Escapamos sempre, ou na maioria das vezes. Pelo menos nós que sobrevivemos às nossas tragédias pessoais. Não escapar é não estar. Mesmo quando mortos, no mínimo, estamos vivos nos corações que nos amam.

E depois quando superamos, percebemos que saímos maiores, senão melhores, de nossas crises. Tudo foi experiência, e nos anos sequentes, percebemos que somos camadas superpostas de nós mesmos; tudo nos formou. Dores, alegrias; sofrimentos e satisfações. Tudo foi aprendizado que nos remeteram a outros aprendizados.

Como minúsculas estrelas a iluminar nossa consciência de sentido, tudo o que vivemos fez de nós o que somos. E cada um de nós, pode e deve se orgulhar do que é. Pois só nós podemos avaliar e saber o quanto foi duro chegar ao que fizemos de nós.

O tempo, composto de momentos, é nosso professor. Aprendemos sempre, mesmo sem perceber. Agora é o momento mais importante de nossas vidas. Não haverão outros iguais. Tudo é sempre novo. A vida não passara novamente. Relaxemos, de qualquer jeito estaremos acrescentando. Aproveitemos, pois.