Todos buscam um lugar ao sol. Já vivi isso literalmente na prisão. O lugar que batia os raios solares, nas parcas horas de “recreação” que tínhamos, era reduzido. Então nos espremíamos, acompanhando os raios solares em seu passeio pelo pátio. Partindo daí, posso compreender que as pessoas que gostariam de ser escritores (como eu) tentem de tudo para realizar seus sonhos. O mercado de livros está abarrotado de livros recém-lançados. Boa parte por “escritores independentes”. As gráficas que facilitam as edições pagas estão faturando alto com isso. Nesse pacote há bons escritores que viram, nesse movimento, uma boa oportunidade para lançarem seus trabalhos. Mas colados vêm os que usam desse expediente apenas para se autointitularem “escritores” por vaidade ou pelo status social que o nome possa carrear. Vendem seus livros para familiares, amigos, simpatizantes, desavisados e esgotam seus mercados.

Escritor, para mim, é alguém consagrado pela crítica e pelo público. Que procede profissionalmente, valorizando a profissão escolhida. Há Jornalistas que se tornam escritores. Mas um texto jornalístico é uma reportagem e não um texto de escritor. Para ser um escritor, é preciso que se viva de textos, de livros e bens relacionados. Não me considero escritor; sou um aspirante. Mas jamais paguei para editar um livro. Orgulho-me do meu trabalho e prefiro parar de escrever a ter que pagar. Estou com seis livros publicados. O último está em destaque nas livrarias de SP e outros Estados onde tenho penetração. Editei por várias editoras, mas a que publicou mais livros meus foi a Companhia das Letras. Foram três. Uma trilogia que começa com o “Memórias de um Sobrevivente”. Este livro foi editado há 13 anos e ainda vende. É matéria de estudos e faz parte das indicações de leitura de vários cursos secundários e universitários. Editei pela Geração; Reformatório; e Global. Todas meus contratos são padrão, ou seja, ganho 10% da capa e adiantamento na assinatura do contrato. Tenho coluna na Revista Trip há 13 anos, blog no site da revista e outro blog no site dessa revista Revestrés, aí do Piauí. Todos pagos por textos postados. Também ataco de “frila” em outras revistas e jornais, como Carta Capital, por exemplo.

Embora tenha condições de viver uma vida modesta como escritor, faço palestras, monto e aplico projetos educacionais e culturais. Os projetos me dão prazer; sou comprometido com certos ideais sociais. Claro que ajudam a fazer face às minha obrigações socioeconômicas. Mas não posso me dizer escritor.

Estou no esforço por chegar a essa condição. Gosto muito de estudar biografias de grandes escritores. Não encontrei um só deles que, antes, não tenha sido também um grande leitor. Sou essencialmente um leitor; e desses aficionados há mais de 40 anos. Leio muito, leio tudo que posso e até onde minhas vistas cansadas aguentam. Por isso não concordo quando vejo as pessoas se autointitulando “escritores” porque publicaram um ou mais livros de edição paga. O mundo editorial é cruel e blindado, eu sei. Então compreendo quem tenta furar o cerco pagando edição. É um dos meios de abrir caminho para um talento desconhecido. Mas não pode ser um fim em si.

Um poeta não é alguém que posta algumas poesias melosas ou esdrúxulas no facebook e publica livros de poesias pago. É muito mais complexo ser poeta do que ser escritor. Nem todos os grandes escritores foram poetas. O poeta é inspiração absoluta e não belas palavras pinçadas aqui e acolá. Poesia não é essa coisa apelativa que se vê postada diariamente nas redes sociais. Poucos foram os poetas que conseguiram se destacar, como Fernando Pessoa, Drummond, Cecília Meireles, Florbela Espanca ou Vinícius de Morais. Carece de muita sensibilidade e inspiração. Tenho um livro publicado que chamam de poesias: “Desconforto”. Mas jamais me considerei poeta. Não frequento saraus exatamente por isso. São apenas textos existenciais, sem rima ou pretensão. Poeta é aquele que nos impressiona uma simples batida de olhos. Que nos emociona fortemente com uma frase apenas: “Te amo em largo, lasso e profundo”, como diria a grande poetisa inglesa.

É preciso um pouco mais de modéstia, um pouco mais de auto-crítica, um pouco mais de trabalho, de esforço e luta junto às editoras. Não mostro livro algum antes de quatro ou cinco revisões, palavra a palavra, parágrafo a parágrafo e capítulo a capítulo. Tenho pudor. Gosto de deixar meu texto redondo para que não haja dificuldade para os que me lêem. Acredito que quando um livro é fácil de ler é porque o autor teve cuidado para com seus leitores. Creio que a relação escritor/leitor é para ser um caso de amor. Escritor também é feito de suor e insegurança como todas as outras profissões. Não há nada de valor nesse mundo que não cause dor, angústia e solidão.

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Luiz Mendes

20/12/2015.