Tento me reinventar a cada texto. Não suporto me repetir, embora o faça até sem querer. E isso esta se tornando cada dia mais difícil. Já um célebre pensador dizia que depois de Shakespeare ninguém criou mais nada. Sou obrigado a concordar em parte. É só observar o enredo das novelas e dos filmes atuais para enxergar as histórias do grande vate britânico. O que me leva a pensar que não somos livres quanto aos arquétipos históricos. Estamos presos a super permanências históricas e condenados a nos repetirmos.

A população do planeta aumenta 210 mil pessoas por dia; cerca de 3 pessoas por segundo. Essa multidão de novos moradores do planeta vai ficar repetindo o que todos anteriormente fizeram? Liberdade mesmo só existe para aqueles que buscam o novo, inusitado. Tem a ver com expansão, com crescer para todos ao lados. Expandir em termos de conhecimentos para aumentar nossa capacidade de dimensionar a existência.

À medida em que empreendi aprendizado, fui respondendo às minha indagações e entendendo um pouco mais do processo existencial. Então construí uma liberdade especial que pouco tinha a ver com ir e vir apenas. Era um processo ao mundo e às pessoas com meus livros, textos e idéias.

Em muitos momentos, por paradoxal pareça, mesmo aprisionado, estive mais livre do que agora estando do outro lado da muralha. Claro, vou conseguindo por aqui um desempenho bastante razoável. A responsabilidade por nossos dias tangencia a história geral na qual estamos incluídos. No fim, penso, estamos agregados ao destino de todos e temos pequeno espaço para desenvolver o nosso.

Da prisão sai com um único preconceito. Todos os outros a vivência carcerária alijou de uma vez para sempre. Jamais gostei de polícia. Desde muito pequeno, sempre torci para os bandidos. Eram meus inimigos pessoais. Eu os vi cometer muitas barbaridades e sempre com enorme covardia. Sofri demais em suas mãos, desde menino e por décadas.

Então fui pai. Como tudo muda quando temos vidas sob nossa responsabilidade! Nunca havia sido responsável por ninguém. Fui pego inteiramente de surpresa. E estava preso. Vi minha companheira tão frágil e indefesa, com o nenê no colo e comecei a entender meu engano.

Também eu quis sentir que eles estavam protegidos pelas leis e pela polícia. Minha condição de presidiário me colocava inteiramente a mercê. Não podia estar lá para olhar por eles e defendê-los. Essa releitura me ajudou a construir minha cidadania, meu compromisso com a coexistência social. Minha libertação desse preconceito se deu por expansão e não por mudanças pessoais. Todo preconceito limita, cerceia.

Não acredito em transformações ou mudanças. Somos sempre nós mesmos nos fazendo melhores ou piores em relação a tudo o que nos cerca. Quando aprendo tomo posse de um conhecimento que me leva para além do que sou. Posteriormente esse novo entendimento vai ser ponte para novos aprendizados. Sou o que aprende. Aprender é expandir, crescer dentro de si mesmo. Sou todos que fui em camadas superpostas que formam o que sou hoje. Não há limites à expansão.

Com a liberdade não ocorre o mesmo. Somos livres apenas para escolher as regras que mais se adaptam ao nosso sistema pessoal de existência. Vencer um preconceito é avançar em nossa existência. A liberdade de aprender é sempre o primeiro passo e aprender é expandir, ultrapassar, ir além. O homem é um devir, como queriam os existencialistas.

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Luiz Mendes

06/04/2016.