É aquela velha história: um dia você está aqui, e amanhã tudo muda de novo. Que coisa esquisita pensar que mudar o curso tem sido a constante dos meus últimos anos. E daí que rumo aos 30 eu resolvi virar essa pessoa impulsiva. Comprando passagem de véspera, disposta a acordar sem destino, mudando de fila no caixa do supermercado.
Tudo é tão arriscado e eu sei disso, mas ainda preciso aprender a lidar com um monte de sensações. Fracasso, insegurança, saudade – tudo é natural da perda, diz minha analista. Mas o que exatamente estou perdendo? Eu o abandonei, ou apenas deixei ir para onde quer que fosse? Qual a diferença exata entre não querer mais ou não querer agora? O que separa um pra sempre de um pelo tempo que durar?
Passa rápido, alguém dirá, tentando convencer-me da efemeridade de qualquer coisa menos importante para ele do que pra mim. Rápido é bom, mas pode ser ruim também. Eu não entendo, há cinco dias minha medida de tempo era um trator passando em cima de mim e me soterrando com as segundas-feiras mais difíceis de toda a história das segundas feiras. Hoje, abri mão do relógio. E tô boba que ninguém reparou ainda mas, congelamos na terça.
O que mudou, vocês sabem, foram vários nadas. Tirando o fato de que finalmente retirei minhas Piauí do plástico, organizei livros na prateleira por tamanho, fui numa loja de discos as três da tarde. Quem sabe nada disso fosse urgente. Quem sabe fosse crucial para eu estar existindo agora.
Pensei em viajar – talvez tenha tentado convencer alguém – mas todo mundo segue ocupado demais vivendo a vida para a qual eu acabara de pedir licença. Um dia cercada de gente e certeza, noutro sozinha, inventando as dúvidas.
As tardes estão quentes demais para fazer sexo, mas talvez seja bom quase morrer para sentir-se vivo.
De novo.