Estamos diante de um contexto político-social-cultural em que somos bombardeados cotidianamente por informações dos mais diversos tipos e origens. De súplicas ao consumismo às cenas e episódios de violência das mais diferentes ordens, estamos constantemente expostos às modificações advindas desse cenário marcado pela superficialidade das relações, pelo imediatismo da busca de soluções para os problemas (que não são poucos), pelas altas cargas horárias de trabalho e pela vulnerabilidade no acesso aos nossos direitos, em todos os campos. Uma conjuntura marcada por contradições, por situações problemáticas e pela complexidade, o que tem provocado mudanças nos nossos comportamentos e nas mais diversas formas de participação no meio social. Isso tudo tem me feito refletir acerca do papel da universidade, do papel da pesquisa e do papel da educação nas conjunturas reais, concretas da nossa sociedade, da nossa vida. Afinal, o que a universidade tem a ver com isso? O que um professor universitário que faz pesquisa tem a ver com isso? São questionamentos que precisamos nos fazer enquanto professores, pesquisadores, cidadãos e pessoas que se encontram inseridas nos mesmos contextos de vulnerabilidade e complexidade.  

A universidade é um “universo” que tem a função social de promover a crítica, de provocar a análise, de contribuir para a formação “humana” das pessoas. Deste modo, é uma instituição que busca colaborar para a melhoria da qualidade de vida do povo, construindo soluções para os problemas vivenciados cotidianamente, amenizando os conflitos e participando da elaboração de estratégias para o enfrentamento dos desafios e dificuldades do dia a dia. Mas, diante do que estamos experienciando contemporaneamente, onde vemos inúmeras pessoas sem acesso aos direitos básicos que possuem, onde sofremos altas doses de desrespeito ao diferente e às características individuais, e com as relações fragilizadas, próprias de uma sociedade carimbada pelo imediatismo e pela complexidade, vem as indagações: a universidade tem cumprido sua função? Até que ponto nossas pesquisas estão contribuindo para que possamos participar de forma mais ativa de uma sociedade complexa, injusta e desigual? Promover transformações  não seria uma base norteadora para o trabalho realizado na universidade, de maneira a contribuir para a diminuição das desigualdades e injustiças sociais? Entendo que se as pesquisas não influenciarem diretamente a nossa vida, melhorando o nosso estar no mundo, elas são inócuas. Se a universidade não promover a multiplicidade de pensamentos, a pluralidade de modos de ser e de viver, a crítica aos padrões estabelecidos e a educação para o acesso e garantia dos direitos humanos, ela não está cumprindo a sua função social. 

Se a universidade não promover a multiplicidade de pensamentos, a pluralidade de modos de ser e de viver, a crítica aos padrões estabelecidos e a educação para o acesso e garantia dos direitos humanos, ela não está cumprindo a sua função social. 

Nessa perspectiva, as experiências democráticas na universidade constituem-se numa rica oportunidade de aprendizagens em relação à cidadania, à busca pela garantia dos direitos, à compreensão do outro, ao respeito às diferenças e à existência da pluralidade de ideias.  

Assim, numa sociedade complexa, problemática, injusta, desigual e permeada por contradições urge que (re)pensemos o papel da universidade enquanto instituição e que (re) pensemos acerca do nosso papel de professores e pesquisadores, integrando o nosso trabalho à vida cotidiana, às mudanças necessárias para que haja a melhoria da nossa existência nos contextos reais, de forma que tenhamos consciência dos nossos direitos e estejamos dispostos a lutar para termos acesso a eles.  

Desse modo, poderemos ver a íntima relação entre universidade e vida, entre pesquisa e vida, entre educação e vida. Universidade, pesquisa e educação inseridas em um processo educativo que busca tornar as pessoas mais humanas, mais solidárias e com pensamentos e ações pautados na coletividade e na diminuição das injustiças e desigualdades sociais.  

Raimundo Dutra de Araújo é Doutor em Educação e professor da Uespi (Universidade Estadual do Piauí)

(Publicado na Revestrés 36 – maio-junho de 2018)