hoje que você se foi
e ninguém pode negar
o que está feito:
as palavras guardadas no peito 

são flores-navalhas
no chão do real;
e o poeta conhece
o tamanho da fúria
capaz de gerar um furor. 

hoje que você se foi,
o tempo de chorar
também já foi se embora
e um poeta conhece o tamanho do verso
capaz de abolir o acaso,
que as palavras são lances de dardos. 

hoje que você se foi,
os bois que berravam na chapada
viraram sócios do açougue:
os néscios e os midas de sempre
silen$ifraram nossa dor.
e neste cenário de real pavor,
como num lance de touradas,
o troféu é entregue ao matador.

*Salgado Maranhão é poeta

 

Publicado na Revestrés#33 – outubro-novembro de 2017, edição especial Torquato Neto.