Tenho mais perguntas do que respostas para o leitor. Não gosto da expressão “novo normal” como se fosse resposta para a condição do dia a dia, pós-pandemia. Séculos de batalhas antes de nós e lutas por direitos sociais do século 20, tudo para desembocar em 2020 num “novo normal”: essa realidade vivida em telas destinada a uma pequena parcela da população. Nesta pandemia de COVID-19, entre 8 horas de home-office e rotina insana de aulas online, finalizei o livro Nós: tecnoconsequências sobre o humano. O livro instiga as pessoas a pensar onde foi parar o humano. Se descobrirem, me falem.  

A pandemia de COVID-19 é quase um chamado. Pixel por pixel, como diz Bruno Latour, teremos de desmontar essa estrutura vigente de um capitalismo a qualquer preço.

Não sou contra os avanços tecnológicos, mas quando ele subtrai parte da linguagem, gera angústia e incapacidade de amar a si e ao outro, perdendo o pé de vez. O nosso livro é quase um chamado. O filósofo polonês Zygmunt Bauman vai nos alertar em seu último livro Retrotopia [a utopia do passado] que a perda completa da esperança de alcançar felicidade neste planeta tem levado a buscas imateriais e tecnológicas que só reforçam a volta à bolha, o olhar individualista para o próprio umbigo. Quando perdemos a conexão com o humano, dançamos à mercê de governos, de políticos, de marcas. Todo mundo está suscetível à pandemia, mas sempre estoura para o lado mais fraco. 

A pandemia só mostra que já estava tudo errado. A pandemia de COVID-19 é quase um chamado. Pixel por pixel, como diz Bruno Latour, teremos de desmontar essa estrutura vigente de um capitalismo a qualquer preço. Não voltaremos no livro a topologia do século XX, com suas guerras mundiais, fábricas e a automação da vida. Mas é importante relembrar como chegamos até aqui, para perceber que era uma topologia diferente, ligada ao concreto, ao lugar, como clubes, sindicatos, fábricas, matadouros e unidades de classe.  Uma topologia mais marxista do que a topologia fluida e escorregadia do século XXI, dominada por bots de inteligência artificial (IA). Como diz o pesquisador André Lemos no prefácio de Nós, “a tecnologia, como o vírus, só existe associada. Portanto, mais do que isolar, é imprescindível desmontar as suas redes, apontar as formas que toma nas agregações, descrever suas mediações, evitando análises transcendentes sobre impactos ou consequências”.

 

Capa do livro “Nós: tecnoconsequências sobre o humano”

 

Para baixar o e-book grátis:

 

Pollyana Ferrari é jornalista, professora da PUC-SP e pesquisadora em mídias sociais. Autora dos livros Como sair das bolhas, A força da mídia social e, agora, Nós, tecnoconsequências sobre o humano.

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