Convidado a me manifestar, mas  sem nenhuma autoridade sobre o assunto, arrisco-me a palpitar sobre um dos muitos temas que desconheço: a política. Pra começo de conversa, não votei na dona Dilma, não votei (nem votaria) no Sr. Aécio. Votei na volátil Marina que, como a Conceição, do Cauby, “se subiu, ninguém sabe, ninguém viu…”Não me incluam,pois, entre  “corruptos” ou “golpistas”. A pecha de otário me basta.

Aos fatos: dona Dilma não será defenestrada por “crime de responsabilidade” ou por “corrupção”.  Tornar-se-á “carta fora do baralho” por absoluta incompetência. Incompetência política: faltou-lhe traquejo político e jogo de cintura para lidar com as raposas do Congresso Nacional. Faltou-lhe competência administrativa para gerenciar o imenso empório Brasil, onde tudo  se vende. A imagem de “gerentona” eficiente, alardeado por seu tutor não se sustentou. Sem nenhum carisma, dona Dilma revelou-se apena uma governanta (melhor que presidenta) voluntariosa, teimosa e (por que não dizer?) obtusa. O mais ficou por conta da crise econômica e do Cunha.

Anotem aí: se o país não estivesse na lona, mergulhado numa recessão sem precedentes, a governanta poderia ter pedalado, surfado, flanado sem o menor risco de ser importunada. Os que lhe fazem oposição têm tanta credibilidade quanto uma nota de três reais. O problema é que, com o dólar na estratosfera, a classe média (João Antônio chamava de classe mérdia) já não pode atravessar o Atlântico, duas ou três vezes por ano, para aproveitar as “remarcações” no primeiro mundo. Com a volta da inflação, até os “resgatados da miséria absoluta” começaram a chiar. Deu tudo errado.

Entre os muitos erros de dona Dilma, o mais grave foi confiar no PMDB, o partido “vale quanto pesa”. Cevado no fisiologismo  escancarado, o “maior partido do país”  tem fome de cargos,mas detesta assumir encargos que possam “macular” a imagem que construiu “com tantos sacrifícios”, segundo um dos seus mais destacados corifeus. A exemplo dos ratos, os “aliados” começaram a saltar fora do barco quando a água,digo,lama invadiu o porão.

A grande imprensa, capitaneada por Globo, Veja, Istoé e caterva, cuidou do resto. Por que a grande imprensa brasileira está sempre do lado errado, perdão, do lado “certo”? Porque sempre esteve pendurado nas tetas generosas do governo. Faltou leitinho, berra. O PT, por seu turno, em vez de ajudar, atrapalhou. Ao chegar ao poder, fez tudo aquilo que condenava nos outros partidos enquanto esteve na oposição. Com um agravante: fez tudo amadoristicamente.

Mas a cambada do acordão  sabe que a novela ainda não chegou ao final. Vai continuar dando corda ao ímpeto justiceiro do Dr. Sérgio Moro até que a “jararaca” seja esmagada. Se a deixarem escapar, ela voltará muito mais venenosa em 2018. Quem viver verá ou não, como diria mano Caetano.

*Cineas Santos é professor, poeta, escritor e editor.

(Publicado na edição#26, agosto/setembro de 2016)