Desmatamento gigantesco, com área de 492 hectares, avança rapidamente sobre floresta próxima à Chapada das Contendas e ao povoado Malhada Grande, a aproximadamente 65 km da sede do município de Oeiras (PI). De acordo com moradores da região, o lugar do desmatamento será usado para a monocultura da soja.
Segundo placa informativa colocada no local, a área está dentro dos domínios da Fazenda Maria Clara, latifúndio de 1.149 hectares, pertencente a Paulo Henrique da Silva Marra e Luma Isabela Coelho Rodrigues. A área desflorestada equivale a 688 campos de futebol.
Centenas de espécies vegetais e árvores de grande porte foram sacrificadas, como faveiras, aroeiras, canelas-de-velho, angicos. Na área desmatada não há vestígios de espécies da fauna. As que não foram mortas fugiram para florestas próximas.
O desmatamento, feito a corte raso, com tratores e outras máquinas e com uso de fogo, está na fase final. Mas há indícios de outros desflorestamentos nas proximidades, pois estão sendo abertas entradas largas dentro da mata.
O desmatamento gigantesco recebeu autorização da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do Piauí (SEMAR), segundo consta de registros no site daquela secretaria. O site da SEMAR não oferece acesso a documentos importantes, como Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental, entre outros.
A área desflorestada no semiárido piauiense equivale a 688 campos de futebol. Centenas de espécies vegetais e árvores de grande porte foram sacrificadas. Não há vestígios de espécies da fauna. As que não foram mortas, fugiram.
Os processos que culminaram na autorização do desmatamento gigantesco tramitaram nos anos de 2024 e 2025, portanto, na gestão do governador Rafael Fonteles, que tem feito uso de discurso ambientalista e assinou neste ano o Plano de Ação Climática do Piauí.
Apesar de suas importâncias, dois fatores não foram considerados pela SEMAR no processo de concessão da licença ambiental.
Primeiro: o desmatamento gigantesco ocorre dentro do semiárido piauiense, no município de Oeiras, que já registrou picos de altas temperaturas no Brasil, em 2024 e 2025. Neste ano, a umidade do ar em Oeiras baixou a 14%, indicador de clima desértico.
Segundo: o desmatamento gigantesco está situado próximo à Fazenda Chapada Grande, adquirida por empresários paulistas para produzir soja, milho e outros produtos do agronegócio, que abrange grande área desmatada. Portanto, são dois desmatamentos gigantescos muito próximos, aproximadamente 40 km, em linha reta.
O agronegócio em regiões pobres e vulneráveis, que experimentam os efeitos da crise climática global, como é o caso do ora praticado pela Fazenda Maria Clara, em Oeiras, que recebeu autorização para desmatar 492 hectares no semiárido piauiense, é mais um exemplo que não se sustenta diante das discussões antigas nem das atuais, especialmente as que tiveram lugar na COP30, realizada mês passado em Belém (PA).
Esse desmatamento gigantesco é mais uma demonstração clara do que o agronegócio é capaz de fazer em termos de destruição em alta escala da natureza, sob o manto da sustentabilidade e de outros discursos e práticas insustentáveis.
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Rogério Newton é escritor e filho de Oeiras.