Isaac Newton desenvolveu a Teoria da Gravidade durante a quarentena contra a Grande Praga, em 1665. Tinha tempo de sobra para observar a queda das maçãs no campo. A mim, que sequer já vi de perto uma macieira, resta apenas o silêncio de uma quarentena febril. Até então, não me sobressaíram evidências do décimo primeiro mandamento. A fórmula da imortalidade também ainda não bateu em minha porta. Nenhuma descoberta digna de medalhas até então, repousou em minha cama. Tenho tido só e somente a mim. Nada de compor música digna de prêmios. Nenhuma comprovação de múltiplos universos. Sem sinal de uma quinta estação do ano. O avesso do vento talvez eu descubra em uma outra eternidade. A fórmula da vida eterna não vai sair de minha cozinha. Eu sou improdutiva até os dentes.
Gosto mesmo é de encostar o ouvido no chão e buscar em vão os batimentos cardíacos da casa, descobrir cheia de entusiasmo em qual cômodo habita o coração recluso. Gosto das imprudências das paredes e do grunhido que faz no canto do quarto. Do olhar tinhoso do teto da sala. Do sussurro e do dígrafo torto da despensa. E de como o candelabro adormece profundo no corredor da casa. Gosto de deitar nua no azulejo frio do banheiro – fingir que ali faz nevada. E de brincar de ciranda com os ursos-panda no chuveiro. Gosto do som delirante que toca na vitrola (mudez e claves ausentes, é claro). Meu lar é lúdico e meu tecido adiposo tende ao ócio. Quem sabe o acaso caia em meu colo e eu descubra, enfim, que o silêncio sagrado que faço em mim, é Deus disfarçado de abrigo.
Ítalo Lima é poeta, tem dois livros publicados e um coração bonito pra chover.
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